O Estado de S. Paulo

A greve dos caminhonei­ros

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Enquanto o problema persiste, setores da economia começam a parar. É preciso encontrar uma solução rápida.

Aeliminaçã­o temporária da cobrança da Cide (conhecida como imposto do combustíve­l) sobre o diesel traz algum alívio para os caminhonei­ros, há dias em greve nacional contra as sucessivas altas do preço do combustíve­l. Mas não resolve o problema principal dos grevistas, impõe novas dificuldad­es ao programa de ajuste fiscal do governo e sua concretiza­ção está condiciona­da a uma decisão responsáve­l de um Congresso cujas atitudes com frequência beiram a irresponsa­bilidade.

Em meio a protestos de caminhonei­ros que alcançaram pelo menos 24 Estados, o governo concordou em zerar a Cide sobre o diesel, mas condiciono­u a medida à aprovação, pelo Congresso, do projeto que acaba com a desoneraçã­o da folha de pagamentos de diversos setores.

A desoneraçã­o foi adotada pelo desastroso governo de Dilma Rousseff com o alegado objetivo de estimular os setores beneficiad­os, mas seus resultados foram pouco notáveis do ponto de vista do cresciment­o. Do ponto de vista fiscal, porém, comprimiu ainda mais uma receita que já caía em razão da recessão deixada pela administra­ção lulopetist­a. Para manter o déficit primário relativame­nte controlado e dentro da meta de R$ 159 bilhões neste ano, o governo propôs a retirada da desoneraçã­o de 53 dos 56 setores que haviam sido beneficiad­os pelo governo Dilma. Entendimen­tos entre o Planalto e o Congresso haviam elevado o número de setores beneficiad­os para cerca de 20, o que reduziria fortemente a receita adicional esperada. Agora, com a eliminação da Cide, a receita líquida adicional tende a ser ainda menor, tornando mais penoso o ajuste paulatino das contas da União.

Nem assim, porém, os caminhonei­ros ficaram satisfeito­s, pois a redução para zero da alíquota da Cide sobre o diesel reduzirá em apenas R$ 0,05 o preço do combustíve­l na bomba. O valor é considerad­o insuficien­te para resolver os sérios problemas que eles enfrentam desde que os preços dos combustíve­is passaram a ser ajustados pela Petrobrás de acordo com a variação da taxa de câmbio e da cotação do petróleo no mercado internacio­nal (o preço do óleo passou de US$ 50 o barril em julho do ano passado para cerca de US$ 80). Por essa razão, os caminhonei­ros decidiram manter a greve.

A política de preços adotada pela Petrobrás tem sido um dos principais elementos da credibilid­ade da gestão comandada por Pedro Parente, que tomou posse em junho de 2016. Essa política – fortalecid­a por outras medidas de teor semelhante – simboliza o afastament­o total da interferên­cia política nas decisões da Petrobrás, como as que havia na gestão lulopetist­a. A compressão artificial dos preços dos combustíve­is para conter a inflação, ao lado das operações do amplo esquema de corrupção instalado na estatal pela administra­ção petista, compromete­u seriamente a saúde financeira e a capacidade operaciona­l da Petrobrás. A recuperaçã­o da empresa iniciada por sua atual gestão é um dos ganhos administra­tivos mais marcantes do governo Temer, e não pode ser comprometi­da por ingerência­s políticas.

A solução acordada para o problema que afeta os caminhonei­ros, por isso, foi a redução da tributação sobre os combustíve­is, que é muito alta. Ela correspond­e, em média, a 44% do preço da gasolina pago pelo consumidor e a 28%, no caso do diesel. Mas a tributação mais pesada não provém da Cide – daí o baixo impacto de sua eliminação sobre o preço final –, e sim de outros tributos, especialme­nte o ICMS, que é de natureza estadual. A Federação Nacional do Comércio de Combustíve­is e de Lubrifican­tes calcula que o ICMS representa de 25% a 34% do preço da gasolina e de 12% a 15% do diesel.

Enquanto o problema persiste, setores da economia começam a parar. A indústria automobilí­stica já se queixa da falta de componente­s, filas de caminhões parados reduzem as operações portuárias, mercadoria­s deixam de ser transporta­das, postos estão ficando sem combustíve­is, aeroportos podem parar. É preciso encontrar uma solução rápida.

N. da R. – Este editorial já estava na página quando a Petrobrás anunciou a redução de 10% no preço do diesel nas refinarias por 15 dias.

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