O Estado de S. Paulo

O jogo duplo dos eurocético­s

- Matt O’Brien / THE WASHINGTON POST É JORNALISTA

Aprimeira regra de quem quer sair do euro é não dizer que quer sair do euro. Isso porque, se você fizer isso, alienará a maioria dos eleitores e será culpado pelos prejuízos à economia. Ninguém quer ver seus euros transforma­dos em liras, o que causaria uma enxurrada de saques nos bancos. Por isso, a melhor maneira de sair do euro é dizer que não quer, mas, ao mesmo tempo, se preparar para isso.

A Itália realmente pode pôr um fim à experiênci­a de 20 anos de moeda comum. A nova coalizão de governo tentou tranquiliz­ar os investidor­es removendo as partes mais explosivas de sua plataforma, mas insiste em adotar políticas não permitidas pelas regras do euro. Os populistas italianos querem adotar políticas de renda mínima e revogar os cortes de gastos do governo anterior. O problema é que a Itália não tem como pagar por isso sem se endividar ainda mais. A ideia é provocar uma reação da Europa. Assim, vai parecer que eles foram obrigados a fazer algo que não queriam: questionar o futuro da moeda comum e ganhar apoio popular para um confronto que até então não havia. Isso daria ao governo o capital político para obter concessões.

É isso que os populistas da Grécia tentaram fazer em 2015, mas que a Itália espera que funcione desta vez porque sua economia é grande demais para ser ameaçada por Bruxelas. Por isso, a segunda regra para quem quer deixar o euro deveria ser que, para deixar o euro, é preciso ter um plano para começar a imprimir o próprio dinheiro.

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