O Estado de S. Paulo

Bancos vão antecipar dinheiro para Odebrecht pagar R$ 500 mi amanhã

Acordo. Empresa tem até sexta-feira para quitar títulos vencidos em abril; o restante dos recursos, previstos no empréstimo de R$ 2,6 bilhões acertado na segunda-feira e assinado ontem, virá com a emissão de debêntures, que darão fôlego ao caixa da compa

- Renée Pereira Aline Bronzati

Bradesco e Itaú vão antecipar parte do empréstimo de R$ 2,6 bilhões para a Odebrecht pagar amanhã os títulos de R$ 500 milhões que venceram no fim de abril. O restante virá depois com a emissão das debêntures – papéis que serão lançados e comprados pelos bancos. O acordo acertado na noite de segunda-feira, conforme antecipou o ‘Estado’, prevê a concessão de um crédito dividido em duas parcelas: uma de R$ 1,7 bilhão e outra de R$ 900 milhões.

Além dos títulos vencidos em abril, a construtor­a Odebrecht tem cerca de R$ 600 milhões em juros para pagar nos meses de setembro, outubro e novembro. Esse montante, somado aos títulos e juros já vencidos, deve consumir quase metade do empréstimo a ser liberado. No total, a construtor­a tem US$ 4,55 bilhões (R$ 16 bilhões, pela cotação de ontem) emitidos no exterior e que vencem entre 2020 e 2042.

Depois de quatro meses de intensas negociaçõe­s, os últimos detalhes do novo empréstimo foram concluídos na terça-feira e a assinatura do contrato ontem. O acordo dá um alívio para o caixa da empresa, que vive uma grave crise financeira depois que virou a principal personagem da Operação Lava Jato. O envolvimen­to no esquema de corrupção aliado à crise fiscal do País, que derrubou o volume de investimen­tos, fez a carteira de obras da construtor­a cair para menos da metade – de US$ 33 bilhões para US$ 14 bilhões.

Futuro. Com a dívida equacionad­a, a empresa parte agora para tratar de outras questões que ficaram paradas durante as negociaçõe­s do acordo. Uma delas se refere ao futuro da Braskem, hoje o principal ativo da Odebrecht em parceria com a Petrobrás (veja ao lado). A estatal já decidiu que quer deixar a sociedade e, para isso, precisa renegociar o acordo de acionistas da empresa. Na Odebrecht, fontes afirmam que há intenção de continuar no setor petroquími­co, mesmo que de forma minoritári­a.

A lista de pendências que deverá ser retomada inclui ainda a venda de alguns ativos do programa de desinvesti­mento do grupo. Há expectativ­a de se retomar as negociaçõe­s para se desfazer da Hidrelétri­ca de Santo Antônio, no Rio Madeira. A participaç­ão do grupo chegou a ser negociada com a chinesa Spic, mas as conversas estão paradas.

A Odebrecht também deverá reforçar a busca de novos sócios para alguns negócios do grupo. A Atvos, antiga Odebrecht Agroindust­rial, por exemplo, busca desde o fim do ano passado um novo investidor para acelerar seu processo de investimen­tos. Outra opção da empresa, que precisa de capital de giro para ampliar a operação, seria a abertura de capital. Tudo isso, no entanto, dependia do fechamento do acordo para pagar a dívida vencida em abril.

Dentro da empresa, o fechamento do acordo é visto como o início de uma safra de boas notícias, que seria seguida pela assinatura do acordo de leniência do grupo com a Advocacia-Geral da União (AGU), Controlado­ria-Geral da União (CGU) e Tribunal de Contas da União (TCU). Superada essa fase, a próxima meta é sair da lista negra da Petrobrás. Fontes apontam, no entanto, que para superar a crise a construtor­a precisa renovar a carteira de obras. Hoje a construtor­a é responsáve­l por 23% das receitas do grupo.

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PAULO WHITAKER/REUTERS-14/11/2014 Pendências. Com acordo, empresa agora poderá retomar questões que estavam paradas, como o futuro da Braskem

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