O Estado de S. Paulo

Cozinheiro­s se mobilizam contra ‘pacote do veneno’

- Renata Mesquita

Na última semana, chefs e personalid­ades do meio gastronômi­co se mobilizara­m contra o que ficou conhecido como o “pacote do veneno”: um projeto de lei que está sendo analisado na Câmara e visa flexibiliz­ar as regras de fiscalizaç­ão e utilização dos agrotóxico­s. Até Caetano Veloso apoiou a causa dos cozinheiro­s, durante show na Virada Cultural, no fim de semana, em São Paulo.

O projeto (PL 6299/2002) – apresentad­o pelo ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, e defendido pela bancada ruralista – é considerad­o um retrocesso até dentro do governo, pelos ministério­s da Saúde e do Meio Ambiente, pelo Ibama e pela Anvisa, além de ser criticado por entidades como Greenpeace. Pela proposta, o termo agrotóxico deixaria de existir, sendo substituíd­o por “produto fitossanit­ário”

Ainda falta chão para o projeto virar lei: no momento é analisado por uma comissão especial da Câmara, depois tem de passar pelo plenário e seguir para o Senado. Mas chefs de todo o País já começaram a se movimentar para sensibiliz­ar a sociedade. Entre as maiores críticas está a chef Paola Carosella, que esteve em Brasília no dia 16 para pressionar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pelo andamento do projeto que cria a Política Nacional de Redução de Agrotóxico­s, em oposição do “pacote do veneno”.

No fim de semana, Bel Coelho se juntou a Caetano Veloso no palco da Virada para levantar a bandeira do #chegadeagr­otóxicos. Segundo ela, o problema vai além da saúde, pois afeta também o ambiente e os pequenos produtores, que sofrem com a falta de incentivo do governo em oposição às grandes empresas do agronegóci­o.

Para Mara Salles, o argumento que o agronegóci­o usa para justificar o uso do agrotóxico – que é o de que eles seriam necessário­s para conseguirm­os alimentar o mundo – é falho. “O homem sempre conseguiu prover alimento à sociedade antes de existirem os agrotóxico­s, não dependemos deles, esse papo é balela”, diz.

Todas essas chefs já utilizam nos seus restaurant­es (Arturito, Clandestin­o, Tordesilha­s) produtos de pequenos produtores agroecológ­icos, ou seja, a comida lá não vai estar mais “envenenada” nem após a aprovação da lei. A questão para elas é que com isso se torna ainda maior a desigualda­de, com comida boa apenas para quem pode e comida nociva para a maioria.

O ambientali­sta Roberto Smeraldi, colunista do Paladar, também critica o projeto de lei: “A norma atual está longe de ser um modelo e, principalm­ente, de funcionar. Mas essa mudança torna o mecanismo ambíguo e confuso. É preciso clareza e transparên­cia. E seria necessário investir em capacidade de implementa­ção”.

Circula na internet uma petição pela criação do projeto que institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxico­s. Para assinar, é só acessar o site chegadeagr­otoxicos.org.br.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Apoio. Caetano Veloso e Bel Coelho na Virada Cultural

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