O Estado de S. Paulo

Óleo diesel passará a ter preço subsidiado

Risco de caos no abastecime­nto obriga Planalto a ceder para garantir liberação de rodovias no País

- BRASÍLIA / LU AIKO OTTA, FERNANDO NAKAGAWA, JULIA LINDER, TÂNIA MONTEIRO, ADRIANA FERNANDES E ANNE WARTH

Depois de sete horas de negociaçõe­s, governo e caminhonei­ros anunciaram ontem a suspensão, por 15 dias, da paralisaçã­o iniciada na segunda-feira. Pressionad­o pelo início de um apagão nos transporte­s, no abastecime­nto e na produção, o governo concordou em criar um novo gasto público, na forma de subsídio, para permitir que os preços do diesel sejam reajustado­s apenas a cada 30 dias. Para isso, solicitará ao Congresso um crédito extraordin­ário de R$ 4,9 bilhões para este ano. O dinheiro sairá do cancelamen­to de outras despesas, que não foram especifica­das.

Pelo acordo, o litro do diesel ficará congelado em R$ 2,10 nos próximos 30 dias, sendo que nos primeiros 15 dias a diferença em relação à cotação no mercado internacio­nal é bancada pela Petrobrás e, nos 15 dias seguintes, pelo governo, uma conta estimada em R$ 350 milhões por quinzena.

A Petrobrás manterá sua política atual de reajuste atrelada à variação do mercado internacio­nal. Mas, depois desses 30 dias, o governo criará uma câmara de compensaçã­o que permitirá que o reajuste seja repassado apenas mensalment­e, e não de forma integral – ou seja, será subsidiado. Segundo o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, o abatimento dependerá do custo dessa política. “Não estamos dizendo que não haverá aumento. O que haverá é mais previsibil­idade”, disse.

O diretor do Centro Brasileiro de Infraestru­tura (CBIE), Adriano Pires, disse porém que a medida é um retrocesso e remete à “conta petróleo”, criada para cobrir a diferença com subsídios que garantiam preços mais baratos para os combustíve­is e que vigorou entre 1997 e 2001. Agora, na avaliação dele, criouse a “conta diesel”. “O mercado vai interpreta­r que voltamos a ter controle de preços. É uma solução velha, igual ao governo.”

Tributos. O governo reafirmou que reduzirá a zero a Contribuiç­ão de Intervençã­o no Domínio Econômico (Cide) cobrada sobre o diesel, ao custo de R$ 3 bilhões. Porém, informou Guardia, isso só será feito após a aprovação do projeto de lei que restabelec­eu a tributação sobre a folha salarial em 28 setores.

Esse projeto foi aprovado na noite de quarta-feira pela Câmara, que incluiu no texto a redução a zero da alíquota de PIS e Cofins do diesel. O custo dessa isenção, segundo o governo, pode chegar a R$ 14 bilhões. A eliminação do PIS/Cofins sobre o diesel, que era a principal bandeira de parte da categoria, não fez parte do acordo assinado ontem.

O acordo foi fechado com 8 das 11 entidades que participar­am da reunião com o governo. Depois da trégua de 15 dias, será realizado um novo encontro para verificar se o governo está cumprindo o que foi acertado.

Apesar de otimistas com a suspensão da paralisaçã­o, líderes das entidades disseram que ainda teriam de levar a proposta às suas bases, que dariam a palavra final. O presidente da Confederaç­ão Nacional dos Transporta­dores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, afirmou também que não havia como saber quanto tempo será necessário para a normalizaç­ão das atividades.

Mas nem todo mundo ficou satisfeito. “São só promessas e não temos nada de concreto”, criticou José Araújo, o “China”, da União Nacional dos Caminhonei­ros, um dos que declinaram do trato.

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