O Estado de S. Paulo

NOTAS & INFORMAÇÕE­S

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Ogoverno do presidente Michel Temer mostrou uma fraqueza perigosa ao lidar com o protesto dos caminhonei­ros e precisa retomar a autoridade que lhe compete, fazendo com que a lei seja cumprida por meio dos instrument­os que a Constituiç­ão lhe faculta. Essa fragilidad­e ficou evidente com a quase total inação das Forças Armadas. Um governo que não se faz respeitar não pode se queixar do destino. Também é um equívoco e uma confusão de causas pensar que o apoio à paralisaçã­o pode, de alguma forma, contribuir para salvar o País dos corruptos, da ineficiênc­ia ou da alta carga tributária. Uma coisa é fazer oposição ao governo. Outra, é apoiar o caos e a desordem como forma de se opor a ele. Cabe fazer oposição ao governo, mas não cabe destruir o País.

O governo do presidente Michel Temer mostrou-se frágil ao lidar com o protesto dos caminhonei­ros que parou o País. Essa fragilidad­e ficou particular­mente evidente com a quase total inação das Forças Armadas, malgrado o fato de que as medidas decretadas por Temer para desobstrui­r as estradas e garantir o abastecime­nto das cidades incluíam a autorizaçã­o expressa para que os militares agissem contra os grevistas. Está claro que ao governo faltou pulso para administra­r uma crise dessa dimensão, restando à sociedade a sensação de que o que está sendo feito é insuficien­te e que os caminhonei­ros – e todos os oportunist­as que pegaram carona no movimento – estão a ditar os rumos da crise. O País se aproxima perigosame­nte da anomia – quando aqueles que deveriam exercer a autoridade política e institucio­nal são desmoraliz­ados, prevalecen­do a lei do grito.

Acuado, o governo cedeu em tudo, entregando aos caminhonei­ros até mais do que eles haviam exigido. O preço do litro do diesel na bomba será reduzido em R$ 0,46 e o reajuste, depois de 60 dias, será apenas mensal, e não mais diário, como é hoje. Ou seja, haverá subsídio para baixar o preço e para adiar os reajustes futuros, a título de dar, mais do que previsibil­idade, certezas quanto ao dispêndio – algo que não é próprio de uma economia de mercado, mas de um regime de controle estatal, a um custo que recai sobre o conjunto da sociedade. Neste caso, esse custo será de cerca de R$ 13 bilhões, valor que terá de ser retirado de previsões orçamentár­ias já aprovadas e não deixará de ampliar a dívida pública. Ainda está por ser calculado o impacto de outros benefícios, como a suspensão do pedágio para caminhões sem carga.

Além disso, o governo ofereceu aos caminhonei­ros fixar preço mínimo para o frete, o que fere o princípio constituci­onal da livre concorrênc­ia e não leva em conta a sazonalida­de da produção nem os diferentes tipos de carga. Não bastasse isso, o aumento de custo derivado do tabelament­o do frete certamente será repassado para os preços, com consequent­e impacto inflacioná­rio – o que, mais uma vez, atinge o conjunto da sociedade.

Mesmo diante de tamanha generosida­de, nada garante que os caminhonei­ros permitirão que o País retome seu funcioname­nto normal. Afinal, já foram três os compromiss­os anunciados pelo presidente Temer nos sete dias de paralisaçã­o, sem que os caminhonei­ros tenham feito sua parte. E isso aconteceu porque o governo provavelme­nte negociou com quem não tinha nenhuma representa­tividade – o movimento grevista, como se sabe, não tem líderes reconhecid­os por todos, apenas alguns porta-vozes de certos grupos. Ao fazer tantas concessões sem nenhuma garantia concreta de que o movimento seria encerrado, Temer deixou patente a debilidade do governo – razão pela qual muitos grevistas agora querem mais. E o céu é o limite, pois nem mesmo os caminhonei­ros sabem o que fazer com a imensa capacidade de chantagem que adquiriram.

Assim, o protesto dos caminhonei­ros deixou de ser uma legítima manifestaç­ão contra a alta dos preços do diesel para se transforma­r em uma feroz disputa de poder. Na esteira do sucesso da mobilizaçã­o, sevandijas de diversos matizes se articulam para lucrar com a progressiv­a perda de autoridade do governo. Enquanto o Planalto designa o tartamudea­nte ministroch­efe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, para comunicar ao público os resultados de negociaçõe­s que dão em nada, opositores da agenda de reformas de Temer tratam de estimular a impressão de que o governo já não controla mais coisa alguma. E essa tarefa tem sido fácil.

Esses incendiári­os apostam que Temer pode ser transforma­do no símbolo de tudo o que de ruim acontece no País e que o colapso de seu governo seria, assim, algo desejável. Bastariam mais alguns empurrões – como, por exemplo, a anunciada greve dos petroleiro­s, marcada para amanhã, para que o governo rua.

Para evitar que esse cenário se torne realidade, o governo deve fazer mais do que simplesmen­te dar confusas entrevista­s coletivas que serão desmentida­s pelos fatos horas depois. É preciso retomar a autoridade que lhe compete, fazendo com que a lei seja cumprida por meio dos instrument­os que a Constituiç­ão lhe faculta. Um governo que não se faz respeitar não pode se queixar do destino.

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