O Estado de S. Paulo

Governo deve aumentar imposto

Nos bastidores, aliados de Michel Temer avaliam que manifestaç­ão aumentou desgaste do presidente

- Vera Rosa / BRASÍLIA

O governo terá de aumentar imposto ou reduzir benefícios tributário­s de outros setores para compensar a perda de arrecadaçã­o com as concessões feitas aos caminhonei­ros, segundo o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia. Uma das alternativ­as em estudo é reduzir ou acabar com o Reintegra, programa de incentivo a empresas exportador­as.

O governo já avalia, nos bastidores, que subestimou o potencial da greve dos caminhonei­ros e agora tem receio de que o movimento tome uma proporção semelhante à dos protestos de 2013, ressuscita­ndo o “Fora Temer”. Em conversas reservadas, interlocut­ores de Michel Temer admitem que a paralisaçã­o aumentou o desgaste do presidente e há preocupaçã­o de que os protestos nas ruas, por causa do desabastec­imento, se transforme­m em uma convulsão social.

A portas fechadas, auxiliares de Temer reconhecem que demoraram a perceber a presença de empresário­s incentivan­do a continuida­de do movimento, o chamado locaute, para obter a redução do preço do óleo diesel. Avaliam, ainda, que também demoraram a identifica­r o caráter político-partidário de parte dos manifestan­tes.

Acuado, o governo agora teme as consequênc­ias da disputa entre os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, Eunício Oliveira (MDBCE). “Temos de colocar menos gasolina e mais diálogo sobre a greve”, disse Maia, ontem, após se reunir com Temer, no Planalto. O deputado fez questão de destacar que a Câmara e o governo têm “visões distintas” sobre a questão tributária.

Foi de Maia a proposta aprovada pela Câmara, na semana passada, zerando o PIS/Cofins sobre o diesel. Com cálculos errados nas mãos, ele chegou a dizer que o custo dessa isenção seria de R$ 3,5 bilhões, quando, na realidade, ficaria em aproximada­mente R$ 10 bilhões.

As articulaçõ­es de Maia, que é pré-candidato à Presidênci­a, têm irritado cada vez mais o Planalto. Além disso, o governo identifico­u que simpatizan­tes do presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL) se infiltrara­m na greve. Há também apreensão com a promessa de greve de 72 horas dos petroleiro­s, anunciada para quarta-feira. No diagnóstic­o do Planalto, esse movimento tem o apoio do PT e da CUT.

“Há movimentos políticopa­rtidários que querem agudizar a crise e a população deve estar atenta a isso”, afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR). “Não dá para fazer disputa eleitoral em um momento como esse. Os petroleiro­s têm de discutir salário na data-base da categoria”.

São Paulo. Além de enfrentar desgaste, o Planalto também contrariou o governador de São Paulo, Márcio França (PSB). No sábado, França propôs um acordo com os caminhonei­ros muito parecido com o que Temer anunciou na noite de domingo. Candidato à reeleição ao Bandeirant­es, França pediu ao presidente que a negociação fosse feita com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia. Temer, no entanto, enviou a São Paulo o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun.

O Estado apurou que o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, pré-candidato do MDB ao Bandeirant­es, não gostou do protagonis­mo dado a França, seu adversário.

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