O Estado de S. Paulo

Hospitais públicos cancelam cirurgias

Remarcação de eletivas ocorre no ABC e na capital paulista; FAB é acionada para ajudar no transporte de remédios

- Fabiana Cambricoli Lígia Formenti / BRASÍLIA

Após passar oito meses sofrendo com dores agudas na vesícula, a cabeleirei­ra Dalva de Barros, de 62 anos, achou que as crises chegariam ao fim hoje, quando passaria por uma cirurgia no Hospital Municipal Maria Braido, em São Caetano do Sul, no ABC paulista. No fim da tarde de ontem, porém, a paciente foi avisada que o procedimen­to estava cancelado por cauda do desabastec­imento provocado pela greve dos caminhonei­ros. “Vou para o hospital aos gritos toda vez que tenho crise. É muita dor. Fiquei indignada quando cancelaram a cirurgia”, conta Dalva.

A rede pública de São Caetano foi uma das que optaram por cancelar atendiment­os eletivos (não urgentes), por causa da baixa no estoque de medicament­os e insumos. Também anunciaram a medida cinco hospitais municipais da capital paulista e unidades de referência no Estado, como o Hospital das Clínicas da Unicamp. Centros médicos privados em todo o País tomaram a mesma decisão.

“Como a gente não tinha segurança nenhuma da continuida­de na entrega dos insumos, principalm­ente do oxigênio, suspendemo­s as cirurgias desde quinta”, afirma Rafael Moraes, diretor técnico do Hospital Samaritano de Sorocaba, onde pacientes oncológico­s também foram prejudicad­os pela falta de alguns quimioterá­picos. “Tivemos de remarcar as sessões”, detalha Moraes.

Até transplant­es, considerad­os cirurgias de emergência, sofreram uma redução. “É um efeito cascata. Nessa situação, diminuem

as notificaçõ­es de possíveis doadores e, com isso, a captação e as cirurgias”, afirma José Osmar Medina Pestana, diretor superinten­dente do Hospital do Rim da Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp), onde o número de transplant­es passou de 80, na média mensal, para 60 neste mês.

FAB. Com dificuldad­e para escoar remédios para Estados por causa da greve dos caminhonei­ros, o Ministério da Saúde solicitou auxílio da Força Aérea Brasileira para transporte de produtos. Na lista estão medicament­os para câncer, remédios de alto custo, além de vacinas e drogas usadas na terapia anti-HIV.

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