O Estado de S. Paulo

Indicação de premiê pró-UE agrava crise e aproxima Itália de nova eleição

Aposta. Presidente italiano, Sergio Mattarella, rejeita escolha de eurocético para Ministério da Economia e nomeia Carlo Cottarelli, ex-diretor do FMI, para governar o país de maneira provisória; maior desafio do tecnocrata é obter o voto de confiança do

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

O presidente da Itália, Sergio Mattarella, indicou ontem Carlo Cottarelli, ex-dirigente do FMI, como primeiro-ministro provisório. O economista substituir­á Giuseppe Conte, jurista e professor universitá­rio indicado na semana passada, que renunciou no fim de semana após uma tentativa frustrada de liderar uma coalizão entre o partido populista Movimento 5 Estrelas (M5S) e a Liga, de extrema direita.

Cottarelli, de perfil tecnocrata, deve ficar no poder só até a realização de novas eleições. Sua nomeação agravou a crise política iniciada com as eleições legislativ­as de março. Desde então, os partidos se sucedem na tentativa de formar uma maioria estreita no Parlamento, sem sucesso. Na semana passada, Conte, acusado de mentir em seu currículo, chegou a aceitar a missão de formar uma coalizão entre o M5S e a Liga, mas a tentativa durou três dias.

A decisão de Conte de nomear para o cargo estratégic­o de ministro da Economia o eurocético Paolo Savona, crítico contumaz da moeda única europeia e da Alemanha, levou Mattarella a usar seus poderes constituci­onais para vetar o novo governo. Desautoriz­ado em uma decisão inédita por parte de um chefe de Estado, Conte renunciou sem se submeter ao voto de confiança do Parlamento italiano.

“Não posso aceitar que um responsáve­l tido como partidário de uma linha pudesse provocar, provavelme­nte, talvez até inevitavel­mente, a saída da Itália da zona do euro”, justificou Mattarella, ao anunciar a escolha de Cottarelli.

O presidente alegou ainda que o plano de governo da coalizão entre M5S e Liga era infundado e não trazia estimativa­s realistas de financiame­nto. Economista­s italianos previam que as medidas a serem adotadas pelo governo de Conte, como corte de impostos, criação de uma renda mínima universal de ¤ 780 e a redução da idade mínima de aposentado­ria, criaria um buraco no orçamento avaliado entre ¤ 100 bilhões e ¤ 150 bilhões por ano. Isso agravaria a situação do país, que já tem a segunda maior dívida da UE, atrás apenas da Grécia, com 132% do PIB.

O veto de Mattarella foi criticado pelos dois partidos que liderariam a coalizão, já que Cottarelli deverá formar um “governo técnico”, sem nomeações ligadas a partidos políticos e, portanto, distante do plano de governo que M5S e Liga vinham preparando. Pesquisas de opinião mostraram que 60% dos italianos não aprovaram a atitude do presidente.

Cottareli é conhecido na Itália como “Senhor Tesoura”, após sua passagem pelo FMI. Aos 64 anos, ele foi uma espécie de ministro da desburocra­tização do governo de Matteo Renzi, do Partido Democrátic­o, sem grande sucesso.

Seu maior desafio agora será obter o voto de confiança do Parlamento, assim como outro tecnocrata, Mario Monti, que governou entre 2011 e 2013 sem passar pelo crivo das urnas. Se não for aprovado pelo Parlamento, Cottareli poderá apenas gerenciar os assuntos correntes do Estado, sem realizar reformas, à espera das eleições, que devem ser marcadas para setembro.

“Não posso aceitar que um responsáve­l tido como partidário de uma linha pudesse provocar, provavelme­nte, a saída da Itália da zona do euro” Sergio Mattarella

PRESIDENTE DA ITÁLIA

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ANDREAS SOLARO/AFP Crise italiana. Cottarelli, premiê provisório

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