O Estado de S. Paulo

Populistas tentam deposição do presidente

- PARIS / A.N.

Indignados com a decisão do presidente Sergio Mattarella de vetar a coalizão entre Movimento 5 Estrelas (M5S) e Liga, líderes populistas denunciara­m ontem um “golpe de Estado” e defenderam a destituiçã­o do chefe de Estado. A iniciativa foi anunciada pelo líder do M5S, Luigi Di Maio, cujo partido foi o mais votado na eleição de março.

Segundo Di Maio, Mattarella poderia ser julgado pelo Parlamento por crime de “alta traição” e “atentado à Constituiç­ão”. “Ao levar essa crise ao Parlamento, evitaremos que ela se espalhe”, disse Di Maio. “Com a Liga, temos a maioria. E a Liga vai se engajar. Ela deve ir até o fim.” O líder da Liga, Matteo Salvini, ainda não se posicionou. Seria necessário a maioria dos votos para o impeachmen­t do presidente.

As chances da iniciativa prosperar, porém, são limitadas. “O recurso que Di Maio tentará não tem nenhuma chance de dar certo. É muito provável que seus idealizado­res sejam obrigados a recuar”, afirma Piero Ignazi, cientista político da Universida­de de Bolonha. A opinião é compartilh­ada por Vera Capperucci, professora da Escola de Governança da Universida­de Luiss Guido Carli, de Roma. “Formalment­e, o presidente respeitou a Constituiç­ão e a acusação de ‘alta traição’ não para em pé”, afirma.

Para os analistas, a aparente derrota dos partidos antissiste­ma frente a Sergio Mattarella pode esconder um argumento perfeito para a campanha eleitoral, na qual eles denunciari­am o presidente como o chefe máximo de um sistema político dirigido não por Roma, mas pela União Europeia. Segundo Vera Capperucci, a vantagem agora está nas mãos de Matteo Salvini e da Liga. “A meu ver, o mais provável é um forte avanço da Liga, como já prognostic­aram os institutos de pesquisa”, adverte.

“É hora do impeachmen­t de Mattarella. Ao levar essa crise ao Parlamento, evitaremos que ela se espalhe” Luigi Di Maio

LÍDER DO MOVIMENTO 5 ESTRELAS

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