O Estado de S. Paulo

3 PERGUNTAS PARA...

antropólog­o autor de ‘A bola corre mais que os homens’

- Roberto DaMatta,

1 Restando poucos dias para a Copa, a percepção geral é de que as ruas não estão pintadas com símbolos do Mundial ou enfeitadas com bandeiras. O senhor concorda com a avaliação de que a torcida está pouco interessad­a com a Copa? Ou, hoje, o interesse não é demonstrad­o nas ruas, mas nas redes sociais, por exemplo? Não é fácil, convenhamo­s, estar focado na Copa do Mundo como nas anteriores com um ex-presidente que foi o mais popular e uma das maiores esperanças de mudar de fato o Brasil preso por corrupção; com um governo que não consegue superar o lulopetism­o em matéria de correção política e com essa greve que revela tão bem como o País tem sido mal governado, além de estar atrapalhan­do a vida de todos que estão, ao mesmo tempo, contra e um pouquinho a favor dos caminhonei­ros. Isso para não falar da maior derrota da seleção na última Copa do Mundo. 7 a 1 não é algo que, lá no fundo da cabeça da gente, anime muito. Ademais, hoje há outros modos de demonstrar o entusiasmo, mas esses meios mudam.

2 A greve dos caminhonei­ros afeta o otimismo do torcedor brasileiro com a seleção de Tite poucos dias antes do início da Copa? Sem dúvida. Penso que hoje o futebol como chamamos está muito mais separado da política como uma esfera cultural ou simbólica e pesa no torcedor a roubalheir­a geral também na CBF (Confederaç­ão Brasileira de Futebol). É muito lixo numa área em que fomos muitas vezes os melhores do mundo. Somos péssimos em administra­ção pública, inclusive do próprio futebol, mas somos o mais criativo País do mundo nessa matéria. Mudamos não só o modo de jogar, mas principalm­ente a cor do jogo e dos jogadores. Isso não é pouco para o Brasil.

3 Como o senhor avalia o fato de muitas pessoas irem às manifestaç­ões contra o governo com a camisa amarela da seleção brasileira? Como uma forma mais autêntica no sentido de aproximaçã­o com um Brasil sem divisões e roubalheir­a, pois no futebol as regras são claras, não há nepotismo nem mentiras, e o Supremo Tribunal Federal não decide resultado de jogos. Apoiar com uma camisa amarela da seleção é um modo de manifestar um apoio mais a caminhonei­ros e não a quem está interessad­o somente na greve como uma prova de inércia de um governo inegavelme­nte fraco, incompeten­te e tão desonesto quanto o chamado “outro”. No futebol, como na democracia, não há outro; há o desonesto, o fora da lei, o corrupto…

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