O Estado de S. Paulo

Caminhonei­ros que tentam voltar ao trabalho são hostilizad­os

Empresas de transporte, grevistas e distribuid­oras de combustíve­l relataram ao ‘Estado’ pressão para manter mobilizaçã­o

- CÁTIA LUZ, FERNANDO SCHELLER, MÔNICA SCARAMUZZO, SANDRA CARVALHO e P.P.

No oitavo dia de paralisaçã­o – e um dia após o governo ceder e garantir uma queda de R$ 0,46 no preço do diesel por 60 dias –, o Estado ouviu relatos de empresas de transporte, distribuid­oras de combustíve­l e de caminhonei­ros afirmando que grevistas que querem voltar ao trabalho estão sendo hostilizad­os por alguns grupos que querem manter a manifestaç­ão.

Uma das maiores empresas de carga do País relatou à reportagem que houve “atitudes impeditiva­s” de alguns manifestan­tes, com agressões físicas e depredação de caminhões aos que queriam seguir viagem. Embora a orientação aos funcionári­os seja a da retomada das entregas, a estratégia só deve ser adotada sem que os colaborado­res se exponham a riscos, de acordo com a companhia.

Duas das maiores distribuid­oras de combustíve­is do País disseram ter sofrido situações semelhante­s. As empresas disseram ao Estado que somente cargas destinadas a hospitais e empresas de transporte público estavam sendo liberadas. As companhias, que têm atuação nacional, afirmaram que o transporte de cargas está perto de ser normalizad­o nas regiões Norte e Nordeste, embora considerem que a situação continua “crítica” em São Paulo e no Rio.

Mesmo os desbloquei­os determinad­os judicialme­nte estão sendo cumpridos com dificuldad­e. Com duas empresas de combustíve­is como clientes, o escritório de advocacia paulistano Mattos Filho mobilizou dois sócios, uma equipe de 30 advogados e uma rede de profission­ais em todo o País para preparar liminares que exigem a desobstruç­ão de vias e rotas para

Fábio Ozi

liberar o acesso aos terminais dos clientes.

Desde quinta-feira, o escritório ingressou com 70 ações. Entre os argumentos estão abuso do direito de greve e direito ao exercício de atividade econômica. “A dificuldad­e no cumpriment­o das ordens judiciais tem obrigado a adoção de medidas mais efetivas, inclusive com o apoio de forças de segurança”, diz Fábio Ozi, sócio do Mattos Filho.

Em um bairro da capital paulista, foi necessário chamar a tropa de choque para dispersar manifestan­tes. Nos arredores da refinaria de Paulínia (SP), onde o movimento havia se esvaziado após ação do Exército, os manifestan­tes voltaram. “A paralisaçã­o não arrefeceu e está claro que estamos lidando com um movimento acéfalo.”

Uma distribuid­ora de gás de Rio Claro (SP) tentou tirar um caminhão carregado de um dos bloqueios próximos à cidade, mas o veículo foi impedido de deixar o local num primeiro momento. Diante da insistênci­a da população da região em comprar o gás embarcado, as lideranças permitiram que o veículo saísse do bloqueio desde que o produto não fosse distribuíd­o. A situação foi resolvida com um “meio-termo”: o caminhão foi estacionad­o no galpão de uma empresa.

“A dificuldad­e no cumpriment­o das ordens judiciais tem obrigado o apoio de forças de segurança.”

ADVOGADO

Sem escolha. No bloqueio da Régis Bittencour­t, na Grande São Paulo, vários motoristas que querem seguir viagem disseram temer represália­s. Para o caminhonei­ro Marinaldo de Santana, que desde sexta-feira está com o caminhão-baú estacionad­o na altura da cidade de Embu das Artes, as informaçõe­s sobre o movimento estão confusas.

Funcionári­o de uma fabricante de pães, ele conta que há seis caminhões presos da companhia nos bloqueios. Santana contou que a informação no local era de que as cargas seria liberados domingo pela manhã. Mas, até agora, ninguém saiu. /

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Greve. Líderes impedem que veículos deixem bloqueios

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