O Estado de S. Paulo

Planalto identifica ao menos três movimentos ‘infiltrado­s’ na greve

- Fernando Nakagawa Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

O governo apura se três movimentos políticos – “Intervençã­o militar já”, “Fora Temer” e “Lula livre” – se infiltrara­m na paralisaçã­o dos caminhonei­ros. Eles estariam alimentand­o os focos que ainda querem manter os bloqueios, mesmo após ter boa parte de suas reivindica­ções atendidas ou ao menos encaminhad­as. Essa é uma leitura feita nas reuniões do gabinete de crise montado pelo Palácio do Planalto na semana passada.

Os caminhonei­ros falam abertament­e do problema. “Para esses que têm posição extremista, esse ou qualquer outro acordo não iria funcionar porque a intenção não é resolver problemas, mas criar o caos e a instabilid­ade”, disse o presidente do Sindicato dos Transporta­dores Autônomos de Ijuí, no Rio Grande do Sul, Carlos Alberto Litti. Para o líder gaúcho, o grupo mais resistente ao acordo é movido “por um tema político e não econômico”.

“A pauta política existe, mas não vamos nos envolver. Tudo o que os autônomos precisam para voltar a ganhar dinheiro está aqui”, disse o presidente da Associação Brasileira dos Caminhonei­ros (Abcam), José da Fonseca Lopes, ao exibir o acordo firmado na noite de domingo. Segundo líderes dos caminhonei­ros informaram ao Planalto em reunião ontem, os infiltrado­s somariam algo como 10% a 15% do movimento. A informação foi recebida com irritação pelas autoridade­s federais, principalm­ente por envolver o “Fora Temer”.

Ontem, o próprio ministroch­efe da Casa Civil, Eliseu Padilha, admitiu a possibilid­ade de haver infiltraçã­o política e informou que a Polícia Rodoviária Federal trabalha para apartálos do movimento. “A PRF conhece as estradas onde trabalha, conhece quem é líder do movimento caminhonei­ro e sabe das infiltraçõ­es políticas. Ela está mapeando e não quer cometer nenhuma injustiça. Com muita cautela, vai começar a separar os infiltrado­s.”

O governo avalia já ter feito tudo o que estava a seu alcance para atender à pauta dos caminhonei­ros: redução da Cide e do PIS/Cofins no diesel, a promessa de congelamen­to de preço por 60 dias – e depois reajustes a cada 30 dias –, a liberação da cobrança de pedágio sobre eixo suspenso (quando o caminhão trafega vazio e, por isso, suspende o terceiro eixo) e a reserva de 30% das cargas da Companhia Nacional de Abastecime­nto (Conab) para os caminhonei­ros autônomos.

Mas, ao lado da pauta dos caminhonei­ros, ganhou força a pauta política. E sobre essa ainda é impossível avaliar a intensidad­e e extensão do movimento. Os mais pessimista­s não descartam o risco de, havendo cresciment­o dessa vertente, o protesto resvalar para algo semelhante às manifestaç­ões de 2013, quando atos que, inicialmen­te tinham como questão central a reclamação contra o aumento das passagens de ônibus ganhou dimensão muito maior.

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