O Estado de S. Paulo

Início da retomada pode se reverter

- Claudio Considera PESQUISADO­R ASSOCIADO E COORDENADO­R DO NÚCLEO DE CONTAS NACIONAIS DO IBRE/FGV

OBrasil está há nove dias praticamen­te parado. Os caminhonei­ros, ao paralisare­m o transporte e bloquearem estradas, estão causando transtorno­s ao processo produtivo de forma generaliza­da. Há perdas na agropecuár­ia, na indústria, nos serviços. Com isso, o PIB brasileiro terá seu valor de maio substancia­lmente reduzido, com diversos reflexos sobre o valor de junho e os demais meses de 2018.

Para um desempenho já bastante prejudicad­o vis-à-vis o que se previa para este ano, essa não é uma boa expectativ­a. O Monitor do PIB-FGV, que busca antecipar a direção do PIB, estima para o primeiro trimestre um cresciment­o abaixo das expectativ­as do mercado: prevê um incremento de 0,3% nos três primeiros meses de 2018, comparado com o quarto trimestre de 2017, e apenas 0,9% comparado com igual trimestre de 2017.

Uma tentativa de se estimar a perda apenas no período de 10 dias de greve, tendo por hipótese que metade da economia teria ficado parada, mostra que o prejuízo seria de cerca de R$ 100 bilhões a menos no PIB deste ano. Mas outras perdas também aparecem, principalm­ente com relação aos preços, com elevações generaliza­das dos alimentos. Com a atividade atingida negativame­nte, o emprego também não terá bom desempenho.

Em economia, a mudança de expectativ­as pode ser fatal, e o início da retomada de cresciment­o, que tem sido anunciada, pode se reverter. Não se pode ainda descartar o efeito multiplica­dor de ações grevistas em outras atividades essenciais, como começa a aparecer entre petroleiro­s.

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