O Estado de S. Paulo

Petrobrás perde R$ 115 bi em valor de mercado.

Em menos de uma semana, valor de mercado da petroleira caiu de R$ 357,2 bilhões para R$ 241,6 bilhões, sendo R$ 40 bilhões apenas ontem; recuo foi um dos motivos para a queda de 4,49% da Bolsa, a maior desvaloriz­ação desde a divulgação dos áudios da JBS

- Fernanda Nunes/ RIO Renato Carvalho / SÃO PAULO / COLABOROU PAULA DIAS

Os desdobrame­ntos da greve dos caminhonei­ros têm sido catastrófi­cos para as ações da Petrobrás. Em menos de uma semana, a petroleira perdeu R$ 115,6 bilhões em valor de mercado – sendo R$ 40 bilhões apenas ontem. Além disso, ainda despencou da primeira para a quarta colocação no ranking das empresas mais valorizada­s da BM&FBovespa, sendo ultrapassa­da pela Ambev, Itaú e Vale.

Os papéis da Petrobrás recuaram ontem quase 15%, e ajudaram a levar a B3, a bolsa brasileira, de volta ao patamar que estava em 22 de dezembro. O Ibovespa fechou a segunda-feira em queda de 4,49%, o maior recuo desde que veio à tona a gravação de Joesley Batista, da JBS, com o presidente Michel Temer. O índice terminou o dia em 75.355 pontos, zerando os ganhos acumulados no ano.

O câmbio também não ficou imune a toda a turbulênci­a que o País atravessa. Fechou em alta de 1,90%, cotado a R$ 3,7331. “As várias concessões mostram o quão frágil o governo está. Mostram que há uma incapacida­de de articulaçã­o. O governo fez tudo o que pediram, mas a paralisaçã­o continua e começa a afetar a economia real, com indústrias tendo a produção comprometi­da pela falta de insumos e de funcionári­os”, disse Glauco Legat, analista da Spinelli Corretora.

No caso da Petrobrás, essa relação é mais do que direta. No primeiro dia dos protestos, na segunda-feira da semana passada, a estatal era avaliada em R$ 357,2 bilhões. Após o pregão de ontem, a cifra caiu para R$ 241,6 bilhões. O movimento deixou as ações da empresa perto de zerar ganhos acumulados desde o início do ano.

Essa trajetória foi iniciada na última quarta-feira, quando o presidente da companhia, Pedro Parente, baixou em 10% o preço do óleo diesel e decretou seu congelamen­to por 15 dias. A medida foi interpreta­da pelos investidor­es como um sinal de instabilid­ade e de que a política de preços dos combustíve­is, de reajustes diários, estava ameaçada.

Nem mesmo o anúncio feito pela companhia logo na manhã de ontem, de que “não subsidiará o preço do diesel e não incorrerá em prejuízo” foi suficiente para evitar a continuida­de da desvaloriz­ação das ações. O Itaú BBA anunciou a retirada de Petrobrás PN da sua lista “Brazil Buy”.

Além de repercutir o efeito da greve dos caminhonei­ros na empresa, em seus relatórios, analistas lembram ainda a paralisaçã­o de 72 horas marcada pelos petroleiro­s para a próxima quarta-feira – que pedem, entre outras coisas, a saída de Parente – e a queda do petróleo no mercado internacio­nal como fatores de inseguranç­a.

Ressarcime­nto. Em fato relevante distribuíd­o aos investidor­es, a Petrobrás comentou a decisão da presidênci­a da República de garantir um desconto ao consumidor de R$ 0,46 no litro do diesel na forma de subsídio. Os preços mais baixos serão mantidos por 60 dias. Na semana passada, Parente comunicou o congelamen­to nas refinarias por 15 dias. A diferença de 45 dias em que o valor do combustíve­l permanecer­á inalterado será bancada pelo Tesouro.

A empresa reforçou que “será ressarcida pela União, em modalidade ainda a ser definida”. Não está claro para os investidor­es, porém, como acontecerá o ressarcime­nto e se o governo federal tem dinheiro em caixa suficiente para fazer frente ao compromiss­o ou se vai empurrá-lo para a estatal. Ao mercado, a Petrobrás diz somente que “está avaliando as medidas anunciadas e as alterações legais que entrarão em vigor”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil