O Estado de S. Paulo

Motoristas ficam mais de 24 horas na fila da gasolina.

Expectativ­a por chegada de combustíve­l fez condutores passarem o dia na frente de posto em SP; cidade registra trânsito abaixo da média

- Priscila Mengue / COLABORARA­M BRUNO RIBEIRO e JÚLIA MARQUES

Agnaldo Gonçalves, de 47 anos, completou ontem à noite mais de 30 horas no mesmo lugar: dentro do próprio carro, recém-comprado. Ele estava na fila de um posto de combustíve­l na Rua Amaral Gurgel, no centro de São Paulo. “Eu tenho de esperar, não tenho como ir embora.”

Como ele, dezenas de pessoas já haviam passado a noite na fila, que se estendeu por diversas ruas do entorno e só diminuiu pela manhã, depois de os funcionári­os do posto trazerem as más notícias: o caminhão-tanque previsto para as 22 horas de domingo deveria chegar apenas na manhã de ontem. Depois, veio mais uma notícia ruim: o combustíve­l só viria hoje de madrugada.

O carro prata dirigido por Gonçalves foi comprado na manhã de domingo, no Feirão AutoShow no Anhembi, zona norte. Após guardar o veículo em um estacionam­ento, ele rodou a cidade de táxi atrás de um posto, quando foi informado que o da Amaral Gurgel receberia combustíve­l em breve.

Entrou, então, na fila. No início da tarde, ainda aguardava reabastece­r para voltar para casa em Lages (SC), a 600 quilômetro­s da capital paulista. Sua única distração era assistir aos gols da rodada do fim de semana em uma TV portátil e conversar com os novos conhecidos.

Na fila, a maioria das placas era de São Paulo. Mas, entre os diversos carros vazios deixados para guardar lugar ou carregando donos sonolentos, havia também viajantes. Entre eles estava um grupo de amigas de Belo Horizonte e o estudante de Música Lucas Miranda, de 24 anos, que veio de Brasília na quinta-feira.

À reportagem, Miranda disse ontem à tarde que estava na fila desde as 9h30. E já havia passado por diversas ruas, conforme os demais carros desistiram, indo da Rua Jaguaribe até a Dr. Cesário Mota Júnior. “A gente saiu de Brasília sem saber como ficaria a situação. Foi a melhor estrada que peguei na vida. Não tinha um caminhão.”

Já o taxista Edvaldo Aparecido de Araújo, de 47 anos, entrou na fila por volta das 22 horas de domingo. “Estava voltando de uma corrida, procurando posto, porque não tinha mais condições de pegar outra.”

Depredado. A suspeita de que um posto estava vendendo combustíve­l adulterado terminou em depredação por motoristas e motociclis­tas, na tarde de ontem, em tumulto que só foi encerrado após a chegada de policiais militares. O posto fica na Vila Vivaldi, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Os PMs lançaram bombas de efeito moral e dispararam balas de borracha contra a multidão. Segundo a PM, motoristas perceberam que o motor de seus carros falhava após o abastecime­nto e foram cobrar satisfaçõe­s do posto. Enquanto a discussão estava em curso, o combustíve­l terminou, causando mais revolta entre os que aguardavam na fila.

Bombas de combustíve­l, vidraças e outros objetos do estabeleci­mento foram quebrados. Diante das bombas e balas não letais da PM, a multidão se dispersou. Ninguém foi preso.

No início da noite, cerca de 100 motociclis­tas bloquearam cinco faixas da Marginal do Pinheiros em apoio aos caminhonei­ros. Houve confronto e bombas de efeito moral foram lançadas contra o grupo. Não houve feridos, de acordo com a PM.

Sem grande parte da frota nas ruas, São Paulo teve trânsito abaixo da média na tarde de ontem. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), havia só 9 quilômetro­s de lentidão por volta das 19h30. A Marginal do Pinheiros concentrav­a metade dos congestion­amentos da cidade por causa do bloqueio de motos. A média da capital no horário fica entre 57 e 81 quilômetro­s.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Correria. Boato de que havia gasolina em um posto de combustíve­l na Marginal do Tietê, na zona norte, mobilizou dezenas de motociclis­tas ontem à tarde

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