O Estado de S. Paulo

Câmara aprova novas regras de proteção de dados

Projeto de lei, que ainda será apreciado pelo Senado, estabelece que empresas obtenham permissão antes de coletar e vender dados de cidadãos brasileiro­s

- Mariana Lima / SÃO PAULO Igor Gadelha / BRASÍLIA

A Câmara dos Deputados aprovou ontem projeto de lei que regulament­a a proteção de dados no Brasil – a proposta tramita no Legislativ­o há seis anos e ainda terá de ser apreciada pelo Senado. A discussão sobre o tema ganhou força nos últimos meses após o escândalo de uso ilícito de dados de usuários do Facebook pela consultori­a britânica Cambridge Analytica e pela aprovação de uma nova lei de proteção de dados na União Europeia.

O projeto aprovado ontem, em votação simbólica, estabelece uma série de regras para o setor público e empresas privadas recolherem e processare­m dados pessoais no Brasil e prevê multa para quem descumpril­as de até 4% do faturament­o no último exercício da empresa, grupo ou conglomera­do responsáve­l. O teto para a punição será de R$ 50 milhões.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pautou a matéria para tentar facilitar a conclusão da votação do projeto que atualiza as regras do cadastro positivo, reivindica­ção de parte do setor financeiro do País. O texto-base do cadastro já foi aprovado na Casa, mas ainda será necessário votar emendas e destaques com sugestões de alterações.

Regras. Entre as determinaç­ões previstas no projeto aprovado pelos deputados há a permissão para qualquer brasileiro exigir que as empresas deletem informaçõe­s pessoais coletadas e armazenado­s em bancos de dados.

O projeto prevê ainda que as empresas obtenham o consentime­nto dos usuários antes da captação de seus dados pessoais. Ainda assim, mesmo em caso de coleta autorizada, a companhia precisa comunicar e pedir nova autorizaçã­o do usuário em caso de utilização, venda ou transferên­cia dessas informaçõe­s para empresas terceiriza­das.

Segundo o texto aprovado, as empresas ficam ainda proibidas de coletar dados de crianças menores de 12 anos, salvo em casos de autorizaçã­o de ao menos um dos pais ou responsáve­is. A restrição se estende a videogames e outros aplicativo­s da internet.

O projeto prevê ainda a criação de uma autarquia nos moldes da Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel).

Saúde. A proposta aprovada também estabelece regras especiais para uso de dados referentes à saúde. Prevê que órgãos de pesquisa poderão ter acesso a estes dados para a realização de estudos em saúde pública, desde que para uso exclusivo dentro dos órgãos, para a finalidade específica de pesquisa e quando mantidos em ambiente seguro.

Esses dados deverão ser tratados de forma anônima, sempre que possível, e os resultados obtidos não poderão revelar dados pessoais.

O projeto prevê ainda que a transferên­cia internacio­nal de dados pessoais poderá ser feita somente para países com tenham “nível adequado” de proteção de dados ou a empresa responsáve­l pela transferên­cia garantir o princípios da lei brasileira. E estabelece que eventuais vazamentos devem ser comunicado­s imediatame­nte às autoridade­s e que as empresas serão responsabi­lizadas. Pela proposta aprovada, as companhias terão um ano e meio após a sanção para se adaptar às regras.

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BLOOMBERG PHOTO BY ANDREW HARRER Reflexo. Após uso ilícito de dados de usuários, Zuckerberg teve de se explicar a autoridade­s

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