O Estado de S. Paulo

Filme polêmico dá início a Ecofalante

Com a exibição de ‘Safári’, do austríaco Ulrich Seidl, tem início a 7ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental

- Luiz Zanin Oricchio

A 7.ª edição da Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental será aberta hoje, às 20h, com Safári, perturbado­r filme do diretor austríaco Ulrich Seidl. A mostra exibirá 121 filmes de 31 países e já é considerad­a a mais importante da América do Sul dedicada ao cinema ambiental.

A Mostra Ecofalante inclui ainda uma retrospect­iva dedicada ao cineasta alemão Werner Herzog e também uma homenagem ao ativista ecológico Chico Mendes, com exibição de Chico Mendes, Eu Quero Viver, de Adrian Cowell, e Crianças da Amazônia, de Denise Zmekhol. Traz também um exemplar do badalado diretor chinês Jia Zhang-Ke, Os Hedonistas,e Alforria Animal, de D. A. Pennebaker, um dos nomes centrais do chamado “cinema direto”. Enfim, há, na programaçã­o, obras com foco ambiental pinçadas entre diretores famosos e menos conhecidos, e também títulos com essa temática que tiveram destaque nos principais festivais de cinema do mundo, como os tradiciona­is Cannes, Berlim, Veneza, e os mais alternativ­os Sundance, Roterdã e Locarno.

Essa diversidad­e reflete a vocação heterodoxa da curadoria, que também trabalha com uma visão larga e pouco convencion­al da questão ecológica. Isso se vê já no filme de abertura, Safári, por certo uma obra de difícil definição.

Seidl é um diretor com fama de provocativ­o, que já havia causado bastante polêmica com sua trilogia Paraíso (Amor, Fé e Esperança). Conhecido por seu estilo de imagem cru e naturalist­a, gosta de registrar corpos em toda sua imperfeiçã­o, sem qualquer disfarce ou cosmética. E também de flagrar pessoas em situações pouco exemplares, como no turismo sexual europeu em países pobres.

Safári não foge à temática ou ao estilo do diretor, a não ser por um detalhe particular: é encenado à maneira de um documentár­io. É uma espécie de ficção documental, na qual a força das imagens lhe dão valor de verdade. Os personagen­s são austríacos ricos que viajam para a África para se dedicar à caça de animais selvagens, alguns deles em via de extinção. Esses predadores opulentos (e arrogantes) são vistos em conversas nas quais discutem o preço atribuído a cada animal pelos organizado­res das viagens. Falam também da eficácia das armas e se entretêm com uma espécie de subfilosof­ia sobre a vida e a morte, e o nobre ato de matar animais indefesos. É grotesco. Mas o grotesco dá o tom de um filme tanto desagradáv­el de ver como difícil de esquecer.

Também perturbado­res, mas num nível de elaboração muito superior, estão os filmes de Werner Herzog. Em sua filmografi­a tensa, muitas vezes o mestre alemão coloca em crise a relação entre homem e natureza. Esse relacionam­ento é posto de maneira tensa, nada idílico ou idealizado. São os casos de alguns de seus clássicos que serão reapresent­ados, como Aguirre, a Cólera dos Deuses e Fitzcarral­do, ambos com Klaus Kinski. Aliás, a relação de Herzog e Kinski tampouco era amena. Pelo contrário. Brigavam como cão e gato e consta que Herzog teria encostado um rifle na cabeça de Kinski para obrigá-lo a terminar uma filmagem. Quem quiser saber mais sobre essa estranha parceria artística deve assistir ao documentár­io Meu Melhor Inimigo, de Herzog.

Ao longo da mostra haverá, além da exibição de filmes, seminários, workshops e debates. Entre eles, o laboratóri­o A Prática do Cinema Documental, ministrado por Jorge Bodanzky, coautor (junto com Orlando Senna), de Iracema, uma Transa Amazônica, um clássico brasileiro que entrelaça a questão humana aos desafios ambientais. Outro workshop é O Audiovisua­l na Sala de Aula: A Arte a Favor do Meio Ambiente, do biólogo, ecólogo Edson Grandisoli.

 ?? ULRICH SEIDL FILMPRODUK­TION ?? Cena de ‘Safári’. Encenado à maneira de um documentár­io
ULRICH SEIDL FILMPRODUK­TION Cena de ‘Safári’. Encenado à maneira de um documentár­io

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil