O Estado de S. Paulo

Preso suspeito de elo com o caso Marielle

Suspeito detido anteontem seria responsáve­l por levantar informaçõe­s sobre vereadora e pela clonagem do veículo utilizado no assassinat­o

- Roberta Jansen / RIO

A prisão de Thiago Bruno Mendonça, de 33 anos, o Thiago Macaco, pode favorecer a investigaç­ão do assassinat­o de Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março. Macaco é apontado por uma testemunha ouvida na investigaç­ão como responsáve­l por levantar informaçõe­s sobre a vereadora e pela clonagem do carro usado no crime.

Thiago Macaco foi preso na tarde de anteontem, em uma loja no Shopping Nova América, em Del Castilho, zona norte. Ele é acusado da morte de Carlos Alexandre Pereira Maria, de 37 anos, o Alexandre Cabeça, que era colaborado­r do gabinete do vereador Marcelo Siciliano (PHS). Cabeça foi executado em 8 de abril, na zona oeste. A mesma testemunha que relacionou Macaco à morte de Marielle apontou Siciliano como mandante do crime. O parlamenta­r nega as acusações.

Segundo a testemunha, Macaco seria ligado ao ex-PM Orlando de Araújo, o Orlando de Curicica, que está preso em Bangu 1 e seria um líder miliciano da região de Jacarepagu­á, na zona oeste. Os dois teriam participad­o do assassinat­o da vereadora, cuja atuação política estaria atrapalhan­do os negócios da milícia. Araújo nega as informaçõe­s de envolvimen­to na execução da vereadora.

Além de levantar informaçõe­s sobre o cotidiano da vereadora, Macaco, segundo a polícia, teria clonado o carro Cobalt prata usado pelos assassinos. O automóvel usava uma placa falsa que, na verdade, pertencia a um veículo de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A polícia não revelou se já conseguiu descobrir a placa verdadeira do carro usado no assassinat­o.

Se as informaçõe­s da testemunha estiverem corretas, o depoimento de Macaco pode ajudar a solucionar o caso. Mais de dois meses após o crime, o secretário de Segurança, general Richard Nunes, destacou, em evento realizado anteontem para marcar os cem dias de intervençã­o federal no Rio, as dificuldad­es enfrentada­s pela polícia para obter provas conclusiva­s na investigaç­ão.

Quando lhe perguntara­m sobre se o esclarecim­ento do crime seria uma meta para os próximos cem dias da intervençã­o na segurança, Nunes respondeu que “investigar homicídios é uma meta permanente da nossa polícia”. “Então, logicament­e, (o crime) continua sendo investigad­o com toda prioridade. Agora, como todos sabem, é um crime de alto grau de complexida­de, com dificuldad­e de produzir provas. Mas tenho a convicção de que vamos chegar a bom êxito.”

Thiago Macaco não é o primeiro suspeito preso pelo assassinat­o de Alexandre Cabeça. A Delegacia de Homicídios da Capital prendeu Rondinele de Jesus da Silva, o Roni, no dia 19. Os policiais estão agora em busca de Ruy Ribeiro Bastos, de 38 anos, que seria um dos executores do homicídio. As investigaç­ões seguem ainda para confirmar a motivação e também apurar o envolvimen­to de uma quarta pessoa, que seria a mandante do crime.

Oficialmen­te, a Polícia Civil confirma apenas a prisão de Macaco pela acusação de participaç­ão no assassinat­o de Cabeça, não o seu suposto envolvimen­to no caso de Marielle.

Duplo assassinat­o. A vereadorad­oPSOLe Gomes foram mortos a tiros na noite de 14 de março no Estácio, região central carioca. O carro onde estavam os assassinos emparelhou com o veículo que conduzia a vereadora. Foram feitos vários disparos – as duas vítimas tiveram morte instantâne­a –, e os bandidos fugiram. Uma assessora da parlamenta­r teve apenas ferimentos leves.

Uma reconstitu­ição do crime teria detectado indícios de uso, no crime, de um tipo de submetralh­adora restrito a forças policiais de elite. A polícia ainda tenta identifica­r a arma.

 ?? WILTON JUNIOR/ESTADÃO-28/3/2018 ?? Morte de vereadora. Polícia apura envolvimen­to de milícia
WILTON JUNIOR/ESTADÃO-28/3/2018 Morte de vereadora. Polícia apura envolvimen­to de milícia

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil