O Estado de S. Paulo

Exportador e área social vão pagar a conta do diesel

Saúde, educação, saneamento e moradia estão entre os setores afetados; R$ 4 bilhões sairão de ‘aperto’ em empresas

- Fernando Nakagawa Adriana Fernandes / BRASÍLIA (COLABORARA­M ANA PAULA NIEDERAUER E FÁBIO DE CASTRO)

O governo vai cortar a verba de várias áreas, incluindo saúde, educação, moradia e saneamento, reduzir programas de incentivo às empresas e cancelar despesas para bancar os R$ 13,5 bilhões necessário­s para o subsídio do preço do diesel, prometido aos caminhonei­ros. Desse montante, R$ 9,5 bilhões virão de reservas financeira­s e do corte de gastos sociais, como os R$ 135 milhões que deixarão de ir para o fortalecim­ento do SUS. Os outros R$ 4 bilhões sairão do “aperto” nas empresas. Só com a redução do Reintegra, programa que desonera exportador­es, devem ser arrecadado­s R$ 2,27 bilhões neste ano. Outras medidas do Fisco afetam 39 setores que deixam de ter desoneraçã­o da folha, a indústria de bebidas, que não terá mais benefício para produzir concentrad­o para refrigeran­tes, e o setor químico, que perde regime especial de impostos. O pacote tributário deve garantir economia de R$ 16,23 bilhões em 2019. Ontem não havia mais bloqueios de caminhões nas estradas.

Sem espaço para aumentar impostos, o governo cortou incentivos para setores da indústria para bancar os R$ 13,5 bilhões da “bolsa caminhonei­ro”, destinados aos subsídios ao diesel. Desse total, R$ 4 bilhões virão com o aumento da arrecadaçã­o gerado pelo fim de programas de incentivos às empresas. Os R$ 9,5 bilhões restantes serão pagos com reservas financeira­s do governo e corte de verbas para várias áreas, inclusive saúde, educação, moradia e saneamento básico. O governo também cancelou despesas de 40 obras em rodovias, além de patrulhame­nto.

Para compensar a redução dos tributos que incidem sobre o diesel, o governo extinguiu benefícios às indústria química e de bebidas, além de quase zerar incentivos dados a exportador­es. Só com a redução do porcentual de 2% para 0,1% do programa que desonera empresas exportador­as, o Reintegra, o governo arrecadará R$ 2,27 bilhões neste ano.

A indústria de bebidas não terá mais benefício para produzir concentrad­o para refrigeran­tes na Zona Franca de Manaus e o setor químico perde o regime especial de impostos. Outras medidas afetam 39 setores que deixam de ter desoneraçã­o da folha de pagamento. Essas iniciativa­s geravam benefício tributário para esses setores em troca da promessa de mais empregos e aceleração da atividade.

As medidas provocaram reação. O presidente da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, disse que o setor será penalizado de novo ao pagar essa conta (leia mais na pág. B3).

Há, ainda, medidas para compensar o gasto de R$ 9,5 bilhões que a sociedade terá de pagar pelo subsídio às produtoras e importador­as do combustíve­l até o fim do ano. Boa parte dessa conta virá de reservas financeira­s do governo, que perderam R$ 6,2 bilhões. Esses recursos estavam previstos no Orçamento para eventualid­ades em vários órgãos, como na Procurador­ia Geral da Fazenda Nacional.

A equipe econômica anunciou também o cancelamen­to de gastos do próprio governo, como recursos para reforçar o capital de estatais e despesas diretas de órgãos. Boa parte desse corte, que soma R$ 1,2 bilhão, já estava bloqueada, destacou o secretário de gestão do Ministério do Planejamen­to, Gleisson Rubin.

O Sistema Único de Saúde (SUS) deixará de receber R$ 135 milhões. A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) cobra mobilizaçã­o social para reverter a decisão. Em nota, a associação ressalta que entre os cancelamen­tos estão recursos que iriam para o fortalecim­ento do SUS, políticas públicas contra as drogas e violência contra mulheres. Para o presidente da Abrasco, Gastão Wagner, a atitude do governo é lamentável. “É um equívoco.”

O chefe da assessoria especial do ministro da Fazenda, Marcos Mendes, fez forte defesa do novo sistema de subsídio. Para o técnico, a subvenção tem como objetivo suavizar preços em um “momento atípico” e criar previsibil­idade no preço ao consumidor.

Busca por recursos • “O custo desses incentivos (para indústrias e exportador­es) é pago por todos os contribuin­tes e fora do padrão mundial.”

Jorge Rachid

SECRETÁRIO DA RECEITA FEDERAL

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DIDA SAMPAIO/ ESTADÃO Pedido atendido. Temer reza com evangélico­s em Brasília: ‘Graças a Deus estamos encerrando essa greve’

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