Esquerda já tem votos para tirar premiê espanhol
Parlamento da Espanha vota hoje moção de censura e decide se derruba governo de Mariano Rajoy
Após seis anos no poder, o primeiroministro Mariano Rajoy enfrenta hoje uma sessão em que a oposição tem votos para derrubá-lo. O líder do Partido Socialista Operário Espanhol, Pedro Sánchez, pode se tornar o novo premiê.
Após seis anos e cinco meses no poder, em uma gestão marcada pela recuperação econômica, mas também por escândalos de corrupção, o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, de 63 anos, enfrenta hoje uma sessão em que a oposição tem votos suficientes para derrubálo. O líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Pedro Sánchez, tem chances de se tornar o novo premiê.
A substituição na chefia do governo tornou-se provável com a adesão, ontem, dos independentistas bascos. No primeiro dia dos debates parlamentares sobre a moção de censura, os líderes partidários se confrontaram com Rajoy, na tentativa de convencer os últimos indecisos no Legislativo. Em seus pronunciamentos, Sánchez justificou a moção de censura pedida por ele em razão dos casos de corrupção que abalam o governo do atual primeiro-ministro.
Na semana passada, o Partido Popular (conservador) foi julgado pela Audiência Nacional, espécie de STF espanhol. A corte condenou a legenda e 29 dos membros de sua cúpula a penas que, somadas, chegam a 351 anos de prisão. O chamado Caso Gürtel envolveu escândalos de corrupção, fraudes, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e desvio de verbas públicas. Segundo os documentos apreendidos com o ex-tesoureiro do PP, Luis Bárcenas, o partido havia montado um esquema no qual altos dirigentes da legenda recebiam recursos de empreiteiras, que conseguiam contratos por obras públicas.
A condenação do partido, inédita na Justiça espanhola, motivou a ação de Sánchez para derrubar Rajoy e tentar assumir o poder até eleições antecipadas, ainda sem data marcada. O primeiro-ministro alega que a moção de censura joga a Espanha na instabilidade política. “Não se pode obrigar um país a eleger entre democracia e estabilidade, pois não há maior instabilidade do que a que emana da corrupção”, afirmou Sánchez.
Rajoy respondeu que a moção do PSOE é um “exercício de oportunismo a serviço de uma ambição pessoal” – de Sánchez. “O senhor Sánchez quer governar sem passar pelas urnas, porque sabe que nas urnas nunca ganhará”, acusou o premiê, que bateu o líder socialista duas vezes em eleições anteriores.
O líder socialista ainda tem a missão de garantir até a sessão do Parlamento de hoje um total de 176 votos dos 350 deputados – a maioria simples. O desafio é complexo, pois o PSOE teve em 2016 seu pior desempenho em campanhas eleitorais desde a redemocratização, em 1977, elegendo apenas 84 deputados. Sánchez tem o apoio de seu principal rival à esquerda, o Podemos (esquerda radical), e também de partidos independentistas catalães, que desejam a queda de Rajoy.
Com as promessas de votos do PSOE, Podemos, PNV e catalães no Parlamento, Mariano Rajoy vive uma encruzilhada, mas ainda tem uma alternativa: anunciar sua demissão do cargo, fixando a data de eleições antecipadas. A estratégia lhe permitiria seguir comandando os assuntos do governo até a votação, na tentativa de retomar o apoio popular que o PP vem perdendo nos últimos meses em proveito do líder do Ciudadanos, Albert Rivera – hoje o número 1 das pesquisas.