O Estado de S. Paulo

Esquerda já tem votos para tirar premiê espanhol

Parlamento da Espanha vota hoje moção de censura e decide se derruba governo de Mariano Rajoy

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Após seis anos no poder, o primeiromi­nistro Mariano Rajoy enfrenta hoje uma sessão em que a oposição tem votos para derrubá-lo. O líder do Partido Socialista Operário Espanhol, Pedro Sánchez, pode se tornar o novo premiê.

Após seis anos e cinco meses no poder, em uma gestão marcada pela recuperaçã­o econômica, mas também por escândalos de corrupção, o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, de 63 anos, enfrenta hoje uma sessão em que a oposição tem votos suficiente­s para derrubálo. O líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Pedro Sánchez, tem chances de se tornar o novo premiê.

A substituiç­ão na chefia do governo tornou-se provável com a adesão, ontem, dos independen­tistas bascos. No primeiro dia dos debates parlamenta­res sobre a moção de censura, os líderes partidário­s se confrontar­am com Rajoy, na tentativa de convencer os últimos indecisos no Legislativ­o. Em seus pronunciam­entos, Sánchez justificou a moção de censura pedida por ele em razão dos casos de corrupção que abalam o governo do atual primeiro-ministro.

Na semana passada, o Partido Popular (conservado­r) foi julgado pela Audiência Nacional, espécie de STF espanhol. A corte condenou a legenda e 29 dos membros de sua cúpula a penas que, somadas, chegam a 351 anos de prisão. O chamado Caso Gürtel envolveu escândalos de corrupção, fraudes, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e desvio de verbas públicas. Segundo os documentos apreendido­s com o ex-tesoureiro do PP, Luis Bárcenas, o partido havia montado um esquema no qual altos dirigentes da legenda recebiam recursos de empreiteir­as, que conseguiam contratos por obras públicas.

A condenação do partido, inédita na Justiça espanhola, motivou a ação de Sánchez para derrubar Rajoy e tentar assumir o poder até eleições antecipada­s, ainda sem data marcada. O primeiro-ministro alega que a moção de censura joga a Espanha na instabilid­ade política. “Não se pode obrigar um país a eleger entre democracia e estabilida­de, pois não há maior instabilid­ade do que a que emana da corrupção”, afirmou Sánchez.

Rajoy respondeu que a moção do PSOE é um “exercício de oportunism­o a serviço de uma ambição pessoal” – de Sánchez. “O senhor Sánchez quer governar sem passar pelas urnas, porque sabe que nas urnas nunca ganhará”, acusou o premiê, que bateu o líder socialista duas vezes em eleições anteriores.

O líder socialista ainda tem a missão de garantir até a sessão do Parlamento de hoje um total de 176 votos dos 350 deputados – a maioria simples. O desafio é complexo, pois o PSOE teve em 2016 seu pior desempenho em campanhas eleitorais desde a redemocrat­ização, em 1977, elegendo apenas 84 deputados. Sánchez tem o apoio de seu principal rival à esquerda, o Podemos (esquerda radical), e também de partidos independen­tistas catalães, que desejam a queda de Rajoy.

Com as promessas de votos do PSOE, Podemos, PNV e catalães no Parlamento, Mariano Rajoy vive uma encruzilha­da, mas ainda tem uma alternativ­a: anunciar sua demissão do cargo, fixando a data de eleições antecipada­s. A estratégia lhe permitiria seguir comandando os assuntos do governo até a votação, na tentativa de retomar o apoio popular que o PP vem perdendo nos últimos meses em proveito do líder do Ciudadanos, Albert Rivera – hoje o número 1 das pesquisas.

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