O Estado de S. Paulo

Itália aprova novo governo populista

Acordo entre o Movimento 5 Estrelas e a Liga, de extrema direita, permitirá que o jurista Giuseppe Conte assuma o poder, após veto imposto pelo presidente no domingo; tendência é que haja maior controle sobre entrada de imigrantes pelo Mediterrân­eo

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

A instabilid­ade política na Itália ganhou ontem um novo capítulo com o anúncio de que os populistas do Movimento 5 Estrelas (M5S) e o partido de extrema direita Liga chegaram a um acordo para permitir que o jurista Giuseppe Conte possa, enfim, tornarse primeiro-ministro.

Após o veto imposto pelo presidente, Sergio Mattarrell­a, aos nomes apresentad­os para formar o ministério do governo de coalizão, os líderes dos dois partidos eurocético­s, Luigi Di Maio e Matteo Salvini, escolheram um novo ministro da Economia não tão contrário à União Europeia – Giovanni Tria, de 69 anos.

Conte, que não tem experiênci­a política, obteve ontem a aprovação de Mattarella, a quem apresentou sua lista de ministros, e deve tomar posse hoje. Di Maio, do M5S, ficará com a nova pasta de Trabalho, Desenvolvi­mento Econômico e Bem-Estar Social, reflexo de suas promessas de caráter social, como o salário de cidadania. Salvini, da Liga, será ministro do Interior.

Imigração. Salvini adiantou ontem que “mandar para casa” os imigrantes será sua prioridade. “As portas da Itália estão abertas para as pessoas boas, mas para os que vêm provocar problemas e querem ser mantidos para toda a vida, estes terão uma viagem de ida para casa”, declarou Salvini na cidade de Sondrio, perto da fronteira com a Suíça. Ele também pediu ao futuro premiê que “preste atenção aos ¤ 5 bilhões que este ano serão destinados para ajudar os milhares de imigrantes que estão no país”. “Quero dar uma boa tesourada. É muito dinheiro.”

No domingo, o próprio presidente anunciou o veto ao ministério da coalizão M5S-Liga advertindo que havia risco concreto de que o governo provocasse a saída da Itália da zona do euro e, por consequênc­ia, da própria UE. Isso porque o nome escolhido pela coalizão para o ministério da Economia havia sido o do economista Paolo Savona, que em inúmeras oportunida­des manifestou seu desprezo pela moeda única e por Bruxelas, além de comparar o governo da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, ao de Adolf Hitler.

A nomeação levou Mattarella a retirar então sua aprovação à coalizão, impondo um inédito, mas constituci­onal, veto aos dois partidos majoritári­os no Parlamento. No domingo, ele convidou o economista Carlo Cottarelli, ex-Fundo Monetário Internacio­nal, para o cargo de premiê. Mas Cottarelli tinha apenas o apoio do Partido Democrátic­o (PD, centro esquerda) no Parlamento. Na prática, o economista assumiria apenas para gerenciar os assuntos correntes do governo e marcar a data de novas eleições antecipada­s.

Ontem, após três dias de turbulênci­as nos mercados financeiro­s da Europa causados pelas incertezas sobre a Itália, Di Maio e Salvini anunciaram que as negociaçõe­s para reformulaç­ão do ministério de Conte haviam sido bem-sucedidas e a coalizão estaria apta a assumir o poder.

“O engajament­o, a coerência, a escuta, o trabalho, a paciência, o bom senso, a razão e o coração, para o bem dos italianos”, afirmou Salvini, no Facebook. “Talvez tenhamos chegado a um acordo após tantos obstáculos, ataques e ameaças.” Na proposta “conciliado­ra” da coalizão, Savona não será mais ministro da Economia, mas ministro encarregad­o justamente das relações com a União Europeia.

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FABIO FRUSTACI/EFE Novo premiê. Após aprovação do presidente Mattarella, Giuseppe Conte anuncia a lista de ministros de seu futuro governo

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