Autofagia
Muito além de análises mais profundas ou muito aquém do tempo que não passa neste Brasil, país do “desde sempre”, percebemos a que levou esse último movimento, essa greve geral pseudo-heroica: a nada. Passou com gigantescos prejuízos, cavando mais um palmo no nosso incensado buraco sem fundo. São tolos os que promovem e os que apoiam um processo de autofagia, quando damos apenas um tiro no próprio pé, provocando desordem econômica, confusão política e desmoralização de uma Justiça que mais do que nunca vê e pesa na balança ideológica suas sentenças parciais. Estamos sós, perplexos com a “macunaimização” do brasileiro. Com seus valores perdidos, vemos na autofagia a salvação da própria pele, como um antiherói esperto a apostar na estupidez do outro, além da sua. Sim, como diz velho ditado mineiro, “quando a esperteza é muita, vira bicho grande e come o dono”. Mais do que devorados por nós mesmos, com uma política de retrovisor, perdemos a capacidade de um pensar novo, dentro de uma lógica moderna de um mundo que rompe seus limites através de redes sociais sem fronteiras. O discursinho de direita ou esquerda envelheceu, está morto. Vale apenas uma administração nada mais do que séria, visando apenas ao bem-estar geral, sem nenhum privilégio ou direitos adquiridos pelas eternas oligarquias, castas de plantão. Ou mudamos radicalmente nossa forma de agir ou ficamos parados no espaçotempo do nada, deixando tudo como está para ver como fica. Infelizmente, até agora, resta o nosso eterno perfil: o dos cordiais hipócritas que apostam na memória curta dos desavisados, massa de manobra que se contenta com migalhas dos poderosos, mestres de um populismo de discurso fácil e sem caráter. GLORIA MONTEIRO DE MORAES glorinhafernandes@uol.com.br São Paulo