O Estado de S. Paulo

Um bom exemplo

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Em meio à grave crise provocada em todo o País pela greve dos caminhonei­ros, que causou e continua a causar sérios transtorno­s à vida da população, tem se sobressaíd­o a atuação firme, serena e bem planejada da Prefeitura da capital paulista. Uma série de medidas por ela adotadas ao tempo certo tem conseguido limitar o sofrimento dos paulistano­s, tanto quanto possível na difícil situação criada pela penúria de combustíve­l, que afeta todos os setores de atividade.

No quinto dia da greve, quando se tornou evidente que o problema – que já causava sérias perturbaçõ­es no transporte e no abastecime­nto dos mais variados produtos e no funcioname­nto de serviços – não teria solução rápida, o prefeito Bruno Covas decretou estado de emergência na cidade e criou um comitê para gerir a crise no âmbito do Município, apontando as medidas cuja adoção se impunha. O decreto permite à Prefeitura fazer compras sem licitação, requisitar e apreender bens privados, como combustíve­l que esteja estocado em postos.

O objetivo é garantir o funcioname­nto dos serviços essenciais, de maneira satisfatór­ia, nas condições adversas criadas pela crise. Segundo o prefeito, com o objetivo de assim minimizar os seus impactos, em especial para a população mais carente, “que precisa do transporte público, da escola pública, do Samu”. A adoção de providênci­as semelhante­s ou equivalent­es a essas, para fazer frente a crises as mais diversas e a catástrofe­s naturais, não é novidade. Mas sua execução quase sempre deixa a desejar. O que distingue a ação do prefeito paulistano neste caso é, ao mesmo tempo, a escolha correta das medidas, a determinaç­ão e a rapidez de sua execução.

A Prefeitura agiu com presteza, antes que a procura desesperad­a esgotasse os estoques, para comprar combustíve­l para atender de maneira satisfatór­ia, dentro da situação criada, às necessidad­es urgentes dos serviços públicos, desde transporte de ônibus até o funcioname­nto do Samu e do Serviço Funerário, passando pela limpeza pública e o fornecimen­to de insumos básicos à rede municipal de saúde. Só numa distribuid­ora se conseguiu adquirir 240 mil litros de óleo diesel, retirados com apoio da Polícia Militar (PM).

De três postos iniciais para abastecer seus serviços o governo municipal chegou a 14, o que lhe permitiu ajudar a Eletropaul­o e a Comgás – cujos estoques estavam quase se esgotando –, pela importânci­a dos serviços que prestam.

A boa e correta administra­ção do combustíve­l escasso, obtido a duras penas, com sua criteriosa distribuiç­ão para os vários serviços, foi também importante para se atingir o objetivo fixado. O fornecimen­to às empresas de ônibus, por exemplo, foi feito de tal forma a assegurar a circulação de apenas 70% da frota nos horários de pico, sendo ela reduzida progressiv­amente até 50% de acordo com a necessidad­e mais premente da demanda. Com isso, foi possível manter o serviço em funcioname­nto razoável por vários dias, em nível compatível com a situação anormal que ainda vive o País.

O mesmo critério foi adotado para a limpeza pública. Outras medidas ditadas pelo bom senso, mas que nem por isso são sempre devidament­e aplicadas, foram logo adotadas para economizar combustíve­l, como a suspensão de serviços administra­tivos não essenciais, e a suspensão das regras que restringem a circulação de caminhões a determinad­a área da cidade, a fim de facilitar o já precário abastecime­nto. Os agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), sempre tão ágeis na aplicação de multas em quaisquer circunstân­cias em que se encontrem os faltosos, foram orientados não só a não multar carros parados por falta de combustíve­l, como a escoltálos para local em que não atrapalhem o trânsito.

Pelo menos esse bom exemplo de administra­ção pública eficiente e responsáve­l a crise provocada pela greve dos caminhonei­ros possibilit­ou. E com uma vantagem suplementa­r: o prefeito e seus auxiliares souberam, neste caso pelo menos, se comportar com discrição.

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