O Estado de S. Paulo

Seleção de Tite é ‘graduada’ no futebol europeu

Jogadores convocados para defender o Brasil na Rússia passaram em média 68% de suas carreiras atuando no futebol do velho continente

- Almir Leite ENVIADO ESPECIAL/LONDRES Ciro Campos

Nascidos no Brasil, lapidados no exterior e agora novamente a serviço do País natal. A seleção brasileira convocada pelo técnico Tite para a Copa do Mundo na Rússia é uma das mais internacio­nais da história do time, pois os 23 jogadores têm pelo menos uma temporada de experiênci­a no futebol europeu, mercado para onde todos os atletas foram bem cedo e construíra­m a maior parte da carreira.

Levantamen­to feito pelo Estado mostra que, em média, o grupo da seleção brasileira passou 68% do tempo como jogador profission­al em algum clube da Europa. O tempo de permanênci­a deles em times brasileiro­s é bem menor, com cerca de 29% da carreira construída no País. Portanto, a busca pelo hexacampeo­nato será comandada por quem praticamen­te se formou no futebol europeu.

Em média, esses jogadores da seleção de Tite saíram do Brasil para a primeira transferên­cia rumo ao velho continente com apenas 19 anos. Nessa idade, geralmente quem está em equipes brasileira­s atua em categorias de base, ainda em processo de formação como profission­al.

“É importante vir cedo para a Europa, mas mais importante ainda é vir no tempo certo. Se confundir o momento, a gente acaba perdendo alguns atletas”, avaliou o lateral Danilo.

O jogador do Manchester City, por exemplo, saiu do Santos aos 20 anos e está na Europa há mais de seis temporadas. Se não estivesse machucado, o titular da posição seria Daniel Alves, que dos 17 anos de carreira, está há 16 no velho continente.

Mesmo os três jogadores chamados por Tite que atuam no futebol nacional tiveram logo cedo passagens pelo exterior. O zagueiro Geromel se tornou profission­al em Portugal para só aos 29 anos voltar ao Brasil; o lateral Fagner saiu com apenas 18 anos; e o goleiro Cássio já estava na Holanda aos 20 anos.

Em Copas anteriores o Brasil teve uma seleção um pouco mais ‘nacional’. No ano do último título, em 2002, três titulares do penta (Marcos, Gilberto Silva e Kléberson) atuavam em clubes locais. Nos Mundiais seguintes, os convocados que trabalhava­m no futebol brasileiro eram na maioria reservas. Em 2014, apenas um jogador entre os 23 de Felipão não tinha experiênci­a no exterior, o terceiro goleiro Victor, do Atlético-MG.

Danilo considera a bagagem europeia obtida desde cedo como uma grande vantagem. “Isso é importante porque estamos acostumado­s a jogar a Liga dos Campeões, sempre com pressão de ter de vencer. Isso conta muitos pontos para a seleção quando a gente chega neste momento de ter de entrar para ganhar uma Copa”, comentou.

Nem todos concordam com isso. O técnico da seleção brasileira na Copa de 1990, Sebastião Lazaroni, diz que a saída precoce prejudica a identifica­ção do torcedor com os jogadores. “Acho o processo doloroso. Você não vê esse cresciment­o do atleta de perto. Os times europeus têm cada vez mais observador­es no Brasil e já na base os garotos se transferem”, disse.

Apresentaç­ão. O elenco da seleção tem jogadores que se tornaram mais conhecidos no Brasil graças às convocaçõe­s recentes. Roberto Firmino, por exemplo, jamais jogou na Série A do Brasileiro e foi a surpresa de uma lista em 2014 quando estava no Hoffenheim, da Alemanha. O goleiro Ederson nunca atuou por times do País e o zagueiro Marquinhos fez só 15 partidas pelo Corinthian­s.

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