O Estado de S. Paulo

Outra vitória do atraso

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Ademissão de Pedro Parente não é apenas a perda de um valoroso colaborado­r do governo, mas principalm­ente representa o triunfo dos que parasitam o Estado.

O Brasil sofreu uma baixa muito importante na guerra que as forças do atraso travam contra o País. A demissão de Pedro Parente da presidênci­a da Petrobrás, nas circunstân­cias em que se deu, não é apenas a perda de um valoroso colaborado­r do governo, mas principalm­ente representa o triunfo dos que parasitam o Estado e sabotam todos os esforços daqueles que trabalham duro para impor alguma racionalid­ade à administra­ção dos escassos recursos públicos. Fossem as coisas diferentes, o governo não aceitaria a saída de Parente, cuja retidão moral e capacidade profission­al não serão encontrada­s em quase nenhuma sala do entorno da Presidênci­a da República.

Parente foi responsáve­l pela notável recuperaçã­o da Petrobrás, que havia sido destroçada pelos governos lulopetist­as. Naquela trevosa época, recorde-se, a estatal foi entregue à mais desbragada rapinagem do PT e de seus cúmplices, resultando no famigerado petrolão. Mas engana-se quem pensa que esse foi o pior legado da dupla Lula da Silva-Dilma Rousseff no que diz respeito à administra­ção da Petrobrás.

A estatal transformo­u-se na petrolífer­a mais endividada do mundo, à beira do colapso, quando passou a funcionar como máquina de dinheiro para financiar o populismo do PT, que se manifestou tanto na forma de subsídio para os combustíve­is como na participaç­ão da Petrobrás em empreendim­entos controvert­idos e mal planejados. O pressupost­o era que o papel da Petrobrás – “estratégic­o”, como não se cansam de dizer os empulhador­es – era servir como motor do desenvolvi­mento nacional. O tal desenvolvi­mento não veio – em lugar disso, o que essa política doidivanas gerou foi a ruína da maior empresa do País.

Diante desse quadro, tornou-se óbvio que a única maneira de sanear a Petrobrás era impedir que os interesses políticos continuass­em a ditar os rumos de sua administra­ção – e não foi por outro motivo que Parente exigiu total autonomia para aceitar o convite do presidente Michel Temer para assumir a Petrobrás, em junho de 2016, logo após o impeachmen­t de Dilma Rousseff.

Munido dessa liberdade de ação, Pedro Parente pôde implementa­r uma administra­ção austera e dinâmica, que em pouco tempo reequilibr­ou as finanças da empresa, por meio da venda de ativos e, principalm­ente, de uma política de preços que dispensava os subsídios, por respeitar as variações de mercado.

A greve dos caminhonei­ros, contudo, colocou essa política na berlinda, pois a principal reivindica­ção do movimento era o restabelec­imento do subsídio. Diante da hesitação do Palácio do Planalto, que tremeu em razão das consequênc­ias de uma greve que nem conseguiu prever nem soube conter, Parente ainda fez o que pôde para que o governo ganhasse tempo para negociar um acordo – que, ao final, se revelou uma verdadeira capitulaçã­o ao movimento paredista.

Em sua carta de demissão, Parente dá a entender que a decisão do governo de restabelec­er o subsídio, sem dar suporte firme para manter a política de preços por ele implementa­da, foi o fator prepondera­nte para sua saída. “Diante desse quadro, fica claro que a minha permanênci­a na presidênci­a da Petrobrás deixou de ser positiva”, escreveu ele.

Ao aceitar a demissão de Parente, o presidente Michel Temer também deu uma vitória aos petroleiro­s que haviam deflagrado uma greve política, na qual exigiam justamente a saída do executivo. E nem é preciso dizer que a decisão foi celebrada por todos os que trabalham incansavel­mente em favor do subdesenvo­lvimento travestido de “justiça social”. “Já vai tarde”, disse Guilherme Boulos, candidato a presidente pelo PSOL. “Era o que a sociedade esperava”, declarou o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE). “Finalmente!”, tuitou o PT.

Enquanto o governo perde quadros de imenso valor como Pedro Parente – e, antes dele, Maria Silvia Bastos Marques, que deixou o BNDES depois que o governo lhe sonegou apoio contra os que sabotavam sua política de reorganiza­ção do banco –, personagen­s notórios mais por escândalos que por capacidade administra­tiva continuam prestigiad­os no Palácio do Planalto. Nada disso augura um bom futuro nem para o governo nem para o País.

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