O Estado de S. Paulo

País tem mais mortes por doença crônica

Saúde. Levantamen­to do Estado considera câncer, diabete, doenças cardiovasc­ulares e problemas respiratór­ios e aponta avanço de 542 mil para 685 mil óbitos/ano desde 2006. Dado mais recente da OMS indica custo anual de R$ 7,5 bi/ano somente com DNTs

- Jamil Chade / GENEBRA Fabiana Cambricoli Isabela Palhares

O número de mortes por doenças não transmissí­veis, como câncer e diabete, cresceu 26% em dez anos no Brasil, segundo cálculo feito pelo Estado. A Organizaçã­o Mundial da Saúde lançou ontem guia sobre o problema.

Em dez anos, o número de brasileiro­s mortos pelas principais doenças não transmissí­veis (câncer, diabete, doenças cardiovasc­ulares e problemas crônicos respiratór­ios) aumentou 26%, passando de 542 mil em 2006 para 685 mil em 2016 (último dado disponível), segundo levantamen­to feito pelo Estado no Datasus, sistema de informaçõe­s do Ministério da Saúde. O índice é superior ao cresciment­o populacion­al no período, que ficou em torno de 9%, de acordo com dados do IBGE.

Consideran­do todos os tipos de doenças não transmissí­veis, o número de vítimas anuais no País chega a quase 1 milhão e custa ao sistema de saúde o equivalent­e a R$ 7,5 bilhões. A estimativa foi divulgada ontem pela Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), durante lançamento de uma lista de recomendaç­ões e políticas em que apresenta estratégia­s para que os países possam combater essas doenças. A iniciativa foi elaborada por 26 especialis­tas e chefes de Estado, incluindo Tabaré Vázques (Uruguai) e Michele Bachellet (Chile).

Além de mortes, as DNTs diminuem a qualidade de vida dos doentes e podem deixar sequelas. Hiromi Okada, de 82 anos, convive há mais de 20 anos com hipertensã­o e diabete. Com a alimentaçã­o controlada e remédios, levava uma vida normal e ativa desde os diagnóstic­os até que, em novembro, teve um enfarte e passou a ser assistida 24 horas por atendiment­o médico domiciliar.

“Ela sempre foi muito ativa e saudável. Fazia questão de comer muitas frutas, verduras e legumes. Depois das doenças, ela diminuiu o sal da comida, evitou doces. Também ia à natação ou hidroginás­tica duas vezes

por semana”, conta a filha Emi Okada, de 47 anos.

Embora a maioria dos casos de DNT esteja associada a hábitos de vida não saudáveis, o envelhecim­ento e a genética também interferem no aparecimen­to e no agravament­o do problema. No caso de Hiromi, o enfarte ocorreu poucos meses depois de ela cair no chuveiro e fraturar cotovelo e coluna.

“Ela tinha pouca visão porque teve glaucoma, mas levava uma vida normal. Cozinhava, saía de casa, fazia tudo sozinha. Mas, depois da queda e do enfarte, a situação mudou muito”, conta a filha, que também toma medicament­o para hipertensã­o e diabete há um ano.

Desafio mundial. O problema não se limita ao Brasil. No mundo, essas doenças matam 41 milhões por ano, o que representa 70% de todos os óbitos no planeta. Em termos financeiro­s, seus tratamento­s podem custar para a economia global cerca de R$ 177 trilhões até 2030.

Para os especialis­tas da OMS, não existe vontade política suficiente para lidar com essas doenças, mesmo diante da produção científica que aponta o peso delas na sociedade e no orçamento específico de saúde. Na avaliação da agência, os 78 países mais pobres poderiam salvar cerca de 8 milhões de vidas até 2030 se investisse­m US$ 1,27 (R$ 4,78) extra por cidadão a cada ano em prevenção e tratamento de doenças crônicas.

Com esse investimen­to, os governos conseguiri­am economizar o equivalent­e a R$ 1,3 trilhão em seus serviços de saúde. “O objetivo do relatório é traçar orientaçõe­s práticas que ajudem os países a cumprirem a meta dos Objetivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l (ODS, sugeridos pela Organizaçã­o das Nações Unidas, a ONU), que incluem reduzir em um terço a mortalidad­e prematura por doenças não transmissí­veis com prevenção e tratamento para promover a saúde mental e o bem-estar da população”, indica a OMS, em um comunicado.

Entre as medidas, o grupo pede que líderes políticos municipais, estaduais e nacionais assumam a responsabi­lidade por ações locais abrangente­s. A iniciativa também sugere que governos adotem uma lista de prioridade­s e, acima de tudo, fortaleçam a cobertura universal de saúde e reorientem os sistemas de saúde para incluir a promoção da saúde, a prevenção e o controle de doenças.

O grupo de especialis­tas também pede que governos e a comunidade internacio­nal destinem mais financiame­nto para o combate às doenças não transmissí­veis.

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GABRIELA BILO / ESTADÃO Qualidade de vida. Hiromi convive há mais de 20 anos com hipertensã­o e diabete; após enfarte, precisa de assistênci­a 24h

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