O Estado de S. Paulo

Palocci deve ter R$ 70 mi bloqueados

Ressarcime­nto. Justiça bloqueia R$ 80 milhões em bens do ex-ministro petista; valor é inferior aos R$ 150 milhões cobrados pelo MPF como reparação a desvios na Petrobrás

- Ricardo Brandt

O juiz federal Sérgio Moro, responsáve­l pela Operação Lava Jato, abriu na semana passada a etapa final do processo de sequestro e arresto de bens do ex-ministro Antonio Palocci – preso desde outubro de 2016, em Curitiba – e de sua empresa, a Projeto Consultori­a Empresaria­l (atual Projeto Administra­ção Imobiliári­a). Às vésperas de executar o bloqueio, a Operação Lava Jato alcançou um patrimônio de imóveis, carros e investimen­tos do ex-ministro de pelo menos R$ 80 milhões, restando ainda aproximada­mente R$ 70 milhões do valor total de R$ 150 milhões estipulado pelos investigad­ores para reparação de desvios em operações financeira­s envolvendo Palocci.

Aberto em maio de 2017, o pedido inicial incluía o sequestro da casa da família do ex-ministro em Ribeirão Preto, cidade paulista da qual Palocci foi prefeito por duas vezes; um apartament­o em São Paulo – comprado por R$ 6,6 milhões em nome da Projeto – e a sede da empresa, bens avaliados na ação em R$ 12 milhões; outros R$ 61,7 milhões em investimen­tos realizados através da empresa e R $814 mil apreendi dosem contas de Palocci, além de cinco carros em seu nome e da Projeto.

Esses bens estão congelados preventiva­mente por ordem da Justiça desde o ano passado e podem agora ser confiscado­s definitiva­mente.

O registro anexado agora ao processo oficializo­u a inclusão de mais dois bens que ficaram de fora do congelamen­to provisório, por decisão de Moro, e que Palocci lutava para mantêlos longe da Justiça. O primeiro é um apartament­o no Edifício Port de Marseille, no bairro Cerqueira César, em São Paulo, pertencent­e à filha Carolina Silva Palocci. A propriedad­e foi adquirida em junho de 2014 por R$ 2 milhões. Além deste, também foi incluído no arresto um outro imóvel, agora em nome de Marina Watanabe – filha de sua esposa, Margareth Silva Palocci. Comprado em fevereiro de 2015 por R$ 1,4 milhão, também fica em São Paulo.

Para a investigaç­ão da Lava Jato, “Palocci valendo-se dos recursos ilícitos que transitara­m por suas contas bancárias, adquiriu bens imóveis de elevado valor em benefício de Carolina Palocci e Marina Watanabe” após a operação ser deflagrada, em março de 2014.

As operações financeira­s e imobiliári­as podem “em tese caracteriz­ar delito”, observa a Procurador­ia, que teve o argumento aceito pelos desembarga­dores do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), em fevereiro passado.

Segundo o Ministério Público Federal, no caso do apartament­o de Carolina, “há indícios de que Antonio Palocci promoveu a ocultação de patrimônio ilicitamen­te obtido mediante registro de doação em favor de Carolina Palocci para posterior aquisição de bem”. As quebras de sigilo mostraram que, entre março e junho de 2014, Palocci transferiu, por meio de operações bancárias, R$ 2,8 milhões para a filha. O imóvel foi adquirido em 20 de junho.

A Lava Jato rastreou operação financeira semelhante no ano seguinte, quando Palocci teria adquirido o apartament­o no Edifício Indaiá, no Jardim Paulista, em nome de Marina Watanabe. O ex-ministro declarou ter doado R$ 1,5 milhão para a enteada, mas o dinheiro foi transferid­o diretament­e para a conta do antigo dono do imóvel, em 11 de fevereiro de 2015. No mesmo dia, foi feita a escritura de compra e venda do apartament­o por R$ 1,4 milhão.

Cálculo. O cálculo dos R$ 150 milhões a serem devolvidos por Palocci aos cofres públicos considera o dinheiro desviado da Petrobrás, mais indenizaçã­o pelos danos provocados pelos crimes, abrangendo dois processos penais abertos em Curitiba. No primeiro, Palocci já foi condenado no ano passado por Moro a 12 anos, 2 meses e 20 dias de reclusão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, pelo desvio de recursos de contratos da Petrobrás para campanhas eleitorais do PT – feitas pelos publicitár­ios Monica Moura e João Santana. Palocci é réu em outra ação penal, ainda sem sentença, envolvendo a compra de terreno para o Instituto Lula pela Odebrecht.

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GIULIANO GOMES - 29/6/2016 Patrimônio. Para o MPF, o ex-ministro Antonio Palocci fez doações à filha e à enteada para ocultar posse de dois imóveis

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