POR QUE PARENTE SAIU
Pressões contra política de preços da Petrobrás se intensificaram Presidente do Senado o atacou e membros do governo não o defenderam Ele era contra o uso político de receitas ligadas ao pré-sal
Amovimentação do Palácio do Planalto e de lideranças do Congresso pela redução dos preços da gasolina e do gás de cozinha e o interesse do governo nos R$ 100 bilhões do leilão dos barris de petróleo excedentes da cessão onerosa do pré-sal foram determinantes para que Pedro Parente deixasse a Petrobrás. Além do diesel, o ministro Moreira Franco (Minas e Energia) passou a defender um “colchão” para amortecer os preços de outros combustíveis. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), propõe subsídio ao gás de cozinha. O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), o atacou e não houve defesa por parte do governo. O sinal de que o governo buscava saídas para bancar novas medidas em relação aos combustíveis ficou evidente para Parente.
Minha permanência deixou de ser positiva para a construção de alternativas” PEDRO PARENTE,
NA CARTA DE DEMISSÃO
Pressionado a aceitar interferências políticas nas decisões da Petrobrás, Pedro Parente deixou ontem o comando da estatal após dois anos à frente da empresa. Com uma solução interna, o executivo será substituído por Ivan Monteiro, atual diretor financeiro.
Parente apresentou, ontem, sua carta de demissão ao presidente Michel Temer. Com o fim da greve dos caminhoneiros, após 10 dias de paralisação, e a decisão do governo de congelar o preço do diesel, Pedro Parente percebeu que seria alvo de mais pressões pela frente: para reduzir os preços da gasolina e do gás e ceder nas negociações com a União em torno do leilão de barris de petróleo excedentes do pré-sal.
Segundo fontes próximas à empresa, o desgaste de Parente já era nítido. Entre os membros do conselho de administração da petroleira a dúvida era quanto tempo ele aguentaria a pressão para mudar a política de preços dos combustíveis, com reajustes diários. Em seu último contato com analistas financeiros, ele chegou a reclamar que a crise havia sido personalizada nele – sua demissão fez parte da pauta de reivindicações da greve dos petroleiros.
A saída de Parente preocupou o mercado, que teme mais ingerências na Petrobrás. O anúncio da demissão, no meio da manhã de ontem, fez a estatal perder R$ 40 bilhões em valor de mercado.
Ontem à noite, ao anunciar o nome de Ivan Monteiro para o comando da Petrobrás, o presidente Michel Temer disse que mantém o “compromisso com a recuperação e a saúde financeira” da empresa e que, por isso, não haverá qualquer interferência na política de preços da companhia, como alguns políticos pressionam.
Na carta entregue pela manhã ao presidente, Parente disse que sua “permanência na Petrobrás deixou de ser positiva para a construção de alternativas”. “Não serei empecilho para que essas alternativas sejam discutidas”, escreveu.
Desde o início das pressões, Parente deixou claro que preferia sair a abandonar a política de reajustes diários, pilar da recuperação financeira da petroleira. Estratégia que o deixou como alvo dos caminhoneiros, de sindicalistas, políticos da oposição e até do governo.
Nos dois anos em que esteve à frente da Petrobrás, Pedro Parente bancou medidas impopulares para sanear as contas da petroleira. Além de impor uma fórmula de reajustes diários para os preços dos combustíveis, se posicionou contra a política de conteúdo local, desagradando à indústria nacional. Além disso, levou para frente um ambicioso plano de venda de ativos e fez duas rodadas de programas de demissões voluntárias. Elogiada por especialistas e economistas, a gestão de Parente levou as ações da estatal a se valorizarem 87% desde 2016.