O Estado de S. Paulo

Brincando com fogo

- ADRIANA FERNANDES E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS É REPÓRTER DO BROADCAST

Parente preferiu pular fora a ter de concordar com alternativ­as alinhadas à sobrevivên­cia do governo.

Éimpressio­nante o estrago causado pela greve dos caminhonei­ros, que deixou todo o País refém, colocou em xeque o próprio governo, reverbera para outras áreas e está longe de uma solução a curto prazo.

A queda de Pedro Parente – uma reivindica­ção explícita da meteórica “greve” dos petroleiro­s – foi apenas a face mais exposta da fragilidad­e do governo Temer. Um governo que, aliás, parece estar brincando com fogo em sua política para a Petrobrás. A explosão que pode vir daí é fácil de prever.

O governo dá mostras claras de estar se desminling­uindo e é difícil imaginar de que forma chegará ao final dos sete meses que lhe restam. Parente preferiu pular fora a ter de concordar com alternativ­as alinhadas basicament­e à questão da sobrevivên­cia do governo federal.

Se outros integrante­s seguirem pelo mesmo caminho, o que restará ao governo? Nas últimas semanas, algumas concepções sobre as quais a equipe econômica parecia inflexível começaram a ser “flexibiliz­adas”. Não há como negar esse ponto.

O medo de todos eles é que a insatisfaç­ão popular ganhe força, desestabil­izando ainda mais o governo. Esse cenário assombra o Palácio e as lideranças do Congresso.

O substituto de Parente nem tinha sido anunciado oficialmen­te e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, divulgava nota oficial justamente para informar que grupo de trabalho tinha sido criado e se reunido nesta mesma sexta-feira de alta temperatur­a para discutir um colchão amortecedo­r de preços para todos os consumidor­es. Não só os caminhonei­ros.

Apontado como um dos defensores da saída da demissão de Pedro Parente e de mudanças na política de reajuste de companhia, Moreira não só marcou posição como fez questão de antecipar reunião na segunda-feira com representa­ntes do Ministério da Fazenda.

Moreira, o Palácio do Planalto e os políticos aliados querem uma solução rápida para outras demandas populares que ganham força no rastro do acordo negociado com os caminhonei­ros: gás de cozinha e gasolina em queda para todos os brasileiro­s.

Tudo isso sem parecer que a política da Petrobrás mudou e de que foi feita uma intervençã­o na empresa.

A ideia de formação de um colchão com a criação de um fundo estabiliza­dor formando com recursos de um imposto flexível – que cai em momentos de alta de preços dos combustíve­is e sobe quando há queda - não é nova. Mas ganhou os holofotes nos últimos dias com o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, como porta-voz.

O modelo não é fácil de ser implementa­do em períodos de ajuste das contas públicas, sem espaço para perda de arrecadaçã­o e tolerância zero da população para alta de impostos.

A formação de um grupo de trabalho para discutir a criação desse colchão nada mais é do que um pano de fundo para justificar a concessão de novos subsídios.

Mas de onde virá o dinheiro? Governador­es fugiram do debate. Nenhum deu as caras na capital para buscar uma solução, mesmo como ICMS – o principal tributo estadual – ser o de maior peso na formação de preços dos combustíve­is.

A questão ficou mesmo no colo do governo federal. O problema passou a ser o de encontra mais rápido recursos adicionais, além dos R$ 13,5 bilhões destinados ao subsídio do diesel, num Orçamento que está amarrado não só pelo lado de receitas como também pelo teto de gasto que chegou ao limite.

A solução dada ao subsídio do diesel, bancado com crédito extraordin­ário, veio a calhar. Esse tipo de dotação de despesa fica fora do teto. Por isso, a movimentaç­ão para buscar as receitas extraordin­árias para financiar num primeiro momento um subsídio maior a todos os combustíve­is. É nesse contexto que o acordo da cessão onerosa do pré-sal mais do que nunca passou a ser urgente para garantir um caixa gordo ao governo.

O medo é que a insatisfaç­ão popular desestabil­ize ainda mais o governo

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil