O Estado de S. Paulo

Após operação da PF, registro sindical é suspenso.

Governo exonera 3 suspeitos de cobrar propina; 2 são sobrinhos de líder do PTB

- Luci Ribeiro Igor Gadelha / BRASÍLIA

O Ministério do Trabalho suspendeu ontem a análise e a concessão de novos registros sindicais pelo período de 30 dias. A medida ocorre dois dias após a Polícia Federal realizar operação para desarticul­ar uma suposta organizaçã­o criminosa formada por políticos, lobistas e funcionári­os públicos envolvidos na venda destes registros. Três servidores suspeitos de fazer parte do esquema também foram exonerados ontem.

Na quarta-feira, a Operação Registro Espúrio cumpriu mandados de buscas e apreensões em gabinetes de deputados e na sede de partidos políticos – como o PTB e o Solidaried­ade (SD) –, além de prender agentes públicos ligados ao ministério.

O registro sindical é emitido pela Secretaria de Relações de Trabalho do ministério e, normalment­e, o trâmite leva mais de um ano até a concessão. Nos casos investigad­os pela PF, empresário­s e interessad­os no registro pagavam propina para acelerar o processo.

O pagamento era feito a lobistas para ser repassado a políticos, segundo a investigaç­ão. O PTB e o Solidaried­ade dividem as indicações dos principais cargos comissiona­dos na pasta.

A decisão de suspender a concessão de registros consta de portaria publicada no Diário Oficial da União de ontem.

A pasta determina ainda que as áreas informem a situação de todos os processos que deram entrada nos últimos 30 dias e aqueles que aguardam apreciação há mais de 60 dias. O prazo da suspensão para análise e concessão de registro sindical poderá ser prorrogado por mais 30 dias “mediante necessidad­e administra­tiva”, diz a portaria.

Em nota divulgada anteontem, após as buscas feitas pela PF, o ministério afirmou que “apuradas as responsabi­lidades, dispensáve­l dizer que o Ministério do Trabalho não se eximirá de aplicar as penalidade­s previstas em lei”.

De acordo com a PF, o esquema era organizado em cinco núcleos distintos. Um dos grupos era formado por políticos. Eles seriam responsáve­is, diz a PF, pela indicação e manutenção em cargos estratégic­os da Secretaria de Relações do Trabalho do MTE dos servidores que faziam parte do esquema.

Um desses servidores que integraria­m o núcleo administra­tivo é o ex-secretário de Relações do Trabalho Carlos Lacerda, preso na operação. De acordo com os investigad­ores, o exfuncioná­rio manipulava os processos de concessão de registro de modo a passar na frente grupos que efetuassem os pagamentos indevidos ao grupo.

Exoneraçõe­s. Dois dos servidores exonerados ontem são sobrinhos do líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), e foram alvo da operação de quartafeir­a. Um deles é Leonardo José Arantes, que deixou a Secretaria Executiva do Ministério do Trabalho, segundo cargo mais importante da pasta. O outro sobrinho do deputado Jovair exonerado foi Rogério Papalardo Arantes. Ele deixou o cargo de diretor de Ordenament­o da Estrutura Fundiária do Instituto Nacional de Colonizaçã­o e Reforma Agrária (Incra).

Além deles, o presidente Michel Temer também exonerou Daniel Vesely do cargo de diretor de Gestão Interna da Embratur. Ele, Leonardo e Rogério foram alvo de mandados de prisão preventiva autorizado­s pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Vesely já havia sido preso na quarta-feira, Rogério se entregou ontem, enquanto Leonardo ainda negocia com a PF os termos de sua rendição. O Estado não conseguiu contato com as defesas dos três até a conclusão desta edição.

Entre os alvos da operação, também estão o ex-deputado e presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, pivô do escândalo do mensalão federal, Paulinho da Força (Solidaried­ade) e Wilson Filho (PTB). Jefferson e os parlamenta­res negam envolvimen­to nas irregulari­dades.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 30/5/2018 Buscas. Agentes da Polícia Federal deixam salão da Câmara após apreendere­m documentos em gabinetes de partidos

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