O Estado de S. Paulo

As dúvidas que rondam o euro

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1. A Itália vai desistir do euro?

Certamente não. Depois de uma eleição inconclusi­va em março, o novato político Giuseppe Conte vai assumir um governo populista liderado por dois partidos eurocético­s e antissiste­ma. Apesar de ambos criticarem o efeito que a moeda única teve na economia, seu projeto conjunto prevê a manutenção do euro.

2. Por que tanta agitação no mercado financeiro?

Porque, mesmo com o novo governo dizendo que manterá o euro, também quer mais flexibilid­ade para cortar impostos, emprestar e gastar, apesar de a Itália já estar nos limites que a União Europeia estabelece em dívidas públicas e déficits. A ideia da coalizão de pagar algumas dívidas do governo com novas dívidas especiais é algo que os críticos dizem que soa como o início de um retorno à lira. Alemanha e França se alinharam para alertar Roma a não desafiar as regras da UE, que argumentam serem do interesse da Itália se ela quiser fazer outras reformas.

3. A Itália é a ‘nova Grécia’?

Com Irlanda, Portugal e Chipre, a Grécia foi resgatada por outros governos da zona do euro depois que seu acesso a empréstimo­s privados evaporou quando suas dívidas se tornaram insustentá­veis. Em 2015, o governo de esquerda em Atenas quase foi expulso da zona do euro por rejeitar os termos de austeridad­e exigidos em troca de empréstimo­s dos governos. A Itália é outra história. O fundo de resgate da zona do euro tem mais 400 bilhões em reserva. Mas pouco pode fazer pela Itália, que tem economia dez vezes maior que a da Grécia e 2,4 trilhões em dívidas. Em outras palavras, a Itália é “grande demais para fracassar”. A zona do euro simplesmen­te não pode se dar o luxo de resgatar seu terceiro maior membro.

4. E se a Itália sair do euro?

A saída da Itália do euro perturbari­a não apenas a economia italiana, mas toda a Europa. Seria um enorme golpe político para o projeto da União Europeia como um todo, lançando dúvidas sobre planos de integração e a posição da Europa no mundo – a razão pela qual Alemanha, França e outros pagaram para salvar a Grécia. A UE fará todo o possível para evitar um desastre. Mesmo que um socorro ao estilo grego pareça fora de questão, Bruxelas, Berlim e Paris não pouparão esforços para persuadir e ajudar Roma a se manter no rumo do euro.

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