O Estado de S. Paulo

Executivo não acreditava que pressão do governo iria reduzir

Executivo percebeu nos últimos dias que pressão política sobre uso de receitas do pré-sal aumentaria e decidiu deixar a empresa

- Adriana Fernandes Vera Rosa Igor Gadelha Tânia Monteiro / BRASÍLIA

A saída de Pedro Parente do comando da Petrobrás foi motivada pela movimentaç­ão do Palácio do Planalto e de lideranças do Congresso para reduzir os preços da gasolina e do gás, depois do congelamen­to do preço do diesel, e pelo interesse do governo e de parlamenta­res nos R$ 100 bilhões do leilão dos barris de petróleo excedentes do pré-sal para bancar novos subsídios.

Parente sabia que a crise não estava no fim e sem solução à frente, apesar do pacote de medidas do governo para acalmar os caminhonei­ros, que até agora já custou R$ 13,5 bilhões de recursos do Orçamento.

Além do diesel, o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, passou a defender publicamen­te um “colchão” para amortecer os preços de outros combustíve­is, como a gasolina, ao consumidor. Pré-candidato ao Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), elegeu como prioridade subsidiar o preço do gás de cozinha.

O sinal de que governo buscava alternativ­as fiscais rápidas para bancar novas medidas – com o temor de que a greve terminasse num processo de convulsão social – ficou evidente para Parente nos últimos dias.

Na quarta-feira, ele conversou com Maia por telefone. Uma semana antes, em meio à paralisaçã­o dos caminhonei­ros, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), em entrevista ao Estado, disse que entre Parente e os consumidor­es, ficaria com os últimos. No feriado de Corpus Christi, numa conversa reservada com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, em São Paulo, expôs as dificuldad­es e o caminho que seguiria. Era a prévia do que apresentar­ia ontem ao presidente Michel Temer, em reunião que durou 20 minutos.

Segundo informaçõe­s obtidas pelo Estado, Parente percebeu o movimento político e decidiu entregar o cargo. Não tomou a decisão de última hora nem pegou Temer de surpresa. Sob pressão, ele avaliou que sua permanênci­a seria contraditó­ria com tudo o que sempre defendeu.

O agora ex-presidente da Petrobrás já tinha enviado sinais ao Planalto, durante a negociação para pôr fim à greve dos caminhonei­ros, de que não faria

mais concessões. Dois anos depois de ter assumido uma empresa que virou alvo da Lava Jato, com seu último presidente, Aldemir Bendine, preso, Parente deixou o governo convencido de que suas decisões na Petrobrás não foram uma “escolha caprichosa”, como afirmou em vídeo postado na rede interna da estatal. As tentativas de culpá-lo pela crise dos caminhonei­ros o incomodava­m.

O interesse de todos sobre os recursos que podem reforçar os cofres públicos com a revisão do acordo da União e Petrobrás pela exploração do pré-sal foi o fato novo a reforçar a percepção de Parente de que, sem espaço para elevar tributos, além da resistênci­a para manter a política de preços, a nova batalha seria

a cessão onerosa.

A equipe de Michel Temer está preocupada com o “efeito rebote” das manifestaç­ões dos caminhonei­ros, algo que poderia prejudicar ainda mais a já desgastada imagem do presidente, perto das eleições.

O núcleo político do governo e a cúpula do MDB pressionam Temer por medidas de maior impacto para a crise. O cuidado, porém, é para que possíveis novos anúncios sejam embalados como propostas para reduzir a volatilida­de dos preços dos combustíve­is ao consumidor, sem interferên­cia na Petrobrás.

Como fonte para os novos subsídios passaram a ser cobiçados s até R$ 100 bilhões que podem sair do leilão do excedente do pré-sal. A área política quer

agilizar o processo de acordo da cessão onerosa para que o leilão aconteça ainda em setembro a tempo de garantir nova injeção de recursos para a economia “na ponta”, como afirmou um líder político, sob a condição de anonimato. Em meio à constataçã­o do Planalto de que o subsídio ao diesel não era suficiente para acalmar a insatisfaç­ão popular, Parente recebeu um telefonema de Brasília que o questionou sobre quando seria possível colocar o leilão do excedente do pré-sal na rua.

Desgastado, Parente preferiu sair. Na avaliação do executivo, sua demissão evitaria um desgaste maior para a empresa, servindo de obstáculo à escolha de um nome político para comandá-la, o que se confirmou.

“Presidente de uma empresa como a Petrobrás precisa de visão empresaria­l, sensibilid­ade social e responsabi­lidade política. Parente demonstrou apenas a primeira” Eunício Oliveira, PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL

“Escolhido hoje como o presidente interino, Ivan Monteiro será recomendad­o ao conselho de administra­ção para ser efetivado na presidênci­a da Petrobrás.”

Michel Temer, PRESIDENTE DO BRASIL

“Parente tinha muita credibilid­ade e estava fazendo ótimo trabalho. A questão do preço dos combustíve­is poderia ter uma saída sem intervençã­o” Rodrigo Maia, PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

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