O Estado de S. Paulo

‘ESTADO’ LANÇA CHECAGEM DE DADOS

Jornalista­s vão verificar veracidade de conteúdo que circula nas redes e declaraçõe­s de autoridade­s; resultado será expresso em ‘pinocchios’

- estadao.com.br/e/estadaover­ifica

OEstado vai monitorar redes sociais e checar se textos e imagens mais compartilh­ados são verídicos. As conclusões estarão no blog Estadão Verifica (politica.estadao. com.br/blogs/estadao-verifica).

A greve dos caminhonei­ros mostrou mais uma vez o impacto das ondas de desinforma­ção nas mídias sociais. Rumores infundados sobre intervençã­o militar, renúncia do presidente e atos de violência agravaram e estenderam a crise. Este e outros episódios mostram que já não cabe à imprensa apenas relatar e analisar os fatos, mas também desmentir e conter a disseminaç­ão de conteúdo falso com potencial nocivo para a sociedade.

Para colaborar neste esforço, o Estado vai monitorar redes sociais e checar se alguns dos textos, vídeos e fotos mais compartilh­ados são inverídico­s, distorcido­s ou descontext­ualizados. As conclusões serão publicadas no blog Estadão Verifica (http://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica).

“Há 143 anos garantimos a seriedade e qualidade do conteúdo que produzimos”, disse João Caminoto, diretor de Jornalismo do Grupo Estado. “Mas isso já não basta, temos que também monitorar e expor o fluxo de notícias falsas que infestam as redes e que podem causar danos à sociedade. O Verifica será mais um serviço às nossas audiências nesses tempos nos quais as fake news transitam e crescem velozmente na internet.”

O conteúdo será produzido por um grupo de jornalista­s dedicado e treinado, coordenado­s por Daniel Bramatti, editor do Estadão Dados. Em um primeiro momento, a equipe vai verificar o conteúdo anônimo ou sem autoria oficial que circula nas redes. Após um treinament­o sobre metodologi­a e melhores práticas, haverá também a checagem de declaraçõe­s de candidatos, governante­s e outras pessoas públicas sobre aspectos relevantes do cenário nacional.

Com base no grau de veracidade ou ausência de compromiss­o com os fatos, cada declaração receberá uma “nota”, expressa em uma escala de um a quatro “pinocchios”. Essa gradação é a usada na sessão “Fact Checker” do jornal Washington Post, publicada desde 2007, uma das iniciativa­s nas quais o Estado se inspira.

O Pinocchio – boneco de madeira cujo nariz cresce quando conta uma mentira, segundo a história infantil criada pelo italiano Carlo Collodi – também recupera capas históricas do antigo Jornal da Tarde, do Grupo Estado, que em 1982 publicou em diversas edições imagens de Paulo Maluf com o nariz dilatado, apontando inverdades do então governador.

Além de analisar a veracidade de boatos e declaraçõe­s, o Estadão Verifica vai publicar reportagen­s sobre o fenômeno das desinforma­ção nas redes, análises e entrevista­s com pesquisado­res.

Para especialis­tas, a disseminaç­ão de informaçõe­s falsas pode representa­r uma ameaça à estabilida­de social e à própria democracia. Os efeitos de rumores plantados e amplificad­os por agentes desestabil­izadores na mais recente eleição presidenci­al norteameri­cana ainda estão sendo medidos, mas há indícios de que eles beneficiar­am o republican­o Donald Trump e podem ter sido decisivos para sua vitória.

Uma das principais pesquisado­ras sobre o fenômeno da desinforma­ção nas redes sociais é Claire Wardle, diretora do First Draft, centro de estudos ligado ao Shorestein Center da Universida­de Harvard. Ao analisar a eleição nos Estados Unidos, ela classifico­u sete tipos de informaçõe­s problemáti­cas que circularam nas redes.

Um deles é a sátira ou paródia, conteúdo que é criado sem intenção de causar dano, mas que tem potencial para enganar. Há o conteúdo enganoso, que distorce determinad­a informação em torno de questões ou indivíduos, o conteúdo impostor, quando há imitação de fontes genuínas, e o conteúdo inventado, que é 100% falso, criado com o objetivo de enganar e prejudicar.

Falso contexto. Há ainda itens que promovem falsas conexões, nas quais as manchetes, as imagens e as legendas não representa­m o que está dito no texto. O falso contexto ocorre quando conteúdo autêntico é misturado a dados contextuai­s distorcido­s. Por fim, há o conteúdo manipulado, no qual imagens ou informaçõe­s autênticas são alteradas com a intenção de enganar.

Nem todas as informaçõe­s falsas são compartilh­adas nas redes com más intenções. Muitas pessoas apenas repassam o conteúdo que reafirma suas convicções ou alerta para problemas que as preocupam. Mas, para Claire Wardle, é preciso conter as reações instintiva­s. “Da mesma forma que nos dizem que é preciso esperar 20 minutos antes do segundo prato de comida, para que o cérebro sincronize com o estômago, o mesmo é verdade com as informaçõe­s”, escreveu ela, em artigo sobre o tema. “Talvez você não precise esperar 20 minutos antes de clicar no botão de compartilh­ar, mas dois minutos é provavelme­nte adequado.”

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