O Estado de S. Paulo

30 mil criminosos são ligados à facção

Maior cresciment­o aconteceu nos Estados das Regiões Norte e Nordeste; grupo buscaria uma ‘renda monopolist­a’

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Cerca de 30 mil homens em todo o País fazem parte do PCC. Além de SP, com 10.922 integrante­s, Paraná e Ceará são os Estados com mais criminosos ligados ao grupo: 2 mil cada. Bandidos em liberdade pagam R$ 950 por mês à facção.

Em quatro anos, o total de integrante­s do PCC mapeados pelo censo da organizaçã­o em outros Estados foi multiplica­do por seis. Além de São Paulo, onde o aumento foi quase de 100%, os Estados que concentram o maior número de bandidos inscritos na facção – os chamados batizados – são Paraná e Ceará. Cada um tem mais de 2 mil soldados, número equivalent­e ao total de integrante­s que existia fora do Estado de São Paulo em 2012.

Os números mostram que o cresciment­o da facção é contínuo. Em 2014, ela tinha 3.261 integrante­s em outros Estados; em 2017, já eram 18.538 e, no País, o total chegava a 29.460. De lá para cá, mais 2 mil bandidos se filiaram fora de São Paulo ao grupo, que tem agora – dados de março – 20.448 homens e mulheres em outros Estados. O total no País já ultrapassa a casa dos 30 mil.

Os documentos da inteligênc­ia do Ministério Público de São Paulo mostram ainda que no Estado, apesar da repressão sofrida, o grupo passou de 6 mil integrante­s em 2012 para 10.922 em 2018. A precisão dos dados é possível por causa da apreensão dos registros da chamada cebola, a mensalidad­e paga à facção pelos seus integrante­s. Ela é gratuita para quem está preso, mas criminoso que está em liberdade deve contribuir com R$ 950.

Rendas. De acordo com o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), o PCC estabelece­u metas para a expansão interestad­ual. Para tanto, a facção está promovendo a estruturaç­ão do chamado “progresso”, que são as fontes de renda da organizaçã­o: a caixinha, a rifa e o tráfico. É como se a organizaçã­o desse uma espécie de curso para os novatos que querem entrar no negócio. Como se fosse uma franquia, o grupo fornece ainda droga em consignaçã­o para quem vai começar e faz uma pregação sobre sua visão de mundo. É o que Gakiya chama de “fortalecim­ento da doutrina e da ideologia do crime”.

Nessa expansão para outros Estados, o PCC enfrentou a resistênci­a de organizaçõ­es locais, como a Família do Norte (FDN) e o Comando Vermelho, provocando uma guerra no submundo e nas prisões, com conflitos intensos em 11 Estados e moderados, segundo o MPE, em outros seis. Somente no Piauí, em Pernambuco, Alagoas, Goiás, Distrito Federal, Paraná e na Região Sudeste não foram registrado­s conflitos entre as três facções.

No Estado de São Paulo, a organizaçã­o conta com 1.589 pessoas em liberdade pagando mensalidad­e. A zona leste é a região que concentra o maior número de membros (500), seguida pela zona sul, com 193. Outros 9.333 integrante­s estão no sistema prisional. Para tentar conter a facção, o governo paulista instalou bloqueador­es de telefonia celular em 23 penitenciá­rias. “A facção funciona como uma rede. Ela não é vertical”, afirma o pesquisado­r Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da Universida­de de São Paulo (NEV-USP).

Monopólio. Para Leandro Piquet Carneiro, professor do Instituto de Relações Internacio­nais da USP, o crime organizado, ao contrário do crime comum, não busca uma transferên­cia pontual de renda (o roubo, o estelionat­o, o furto etc). “O que é típico dessa atividade é a busca de renda monopolist­a em nichos e espaços. Por isso, o crime organizado é tão violento, pois o seu primeiro desafio é atingir o monopólio nas áreas em que atua.”

Para Piquet, a expansão do PCC lança um desafio aos estudiosos, pois essas organizaçõ­es criminosas só funcionam quando têm uma atuação local, em um pequeno nicho e território, e ficam “fragilizad­as à infiltraçã­o policial e à detecção quando tentam integração vertical (forma de organizaçã­o empresaria­l com uma hierarquia em que cada setor da organizaçã­o tem uma função distinta), expandindo suas áreas de atuação e negócios”. “Isso ocorreu com Pablo Escobar, na Colômbia.” No caso do PCC, o grupo expandiu-se para todo o País sem – até agora – se fragilizar.

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