O Estado de S. Paulo

Iniciativa sensata

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Grupo quer que pré-candidatos prometam que educação básica será prioridade da gestão.

Numa iniciativa que não pode passar despercebi­da, pedagogos, consultore­s legislativ­os, líderes de movimentos sociais, exgestores do sistema educaciona­l e antigos secretário­s e ministros da Educação estão pressionan­do os pré-candidatos a presidente da República a prometer que, se eleitos, farão da educação básica a prioridade de sua gestão, sem concessões a modismos e medidas populistas. A ideia é mobilizar o poder público, a partir de 2019, a adotar medidas responsáve­is para assegurar “um salto de qualidade e equidade com repercussõ­es no desenvolvi­mento econômico e social”.

O grupo é articulado pelo movimento Todos pela Educação, entidade sem fins lucrativos integrada por representa­ntes de diversos setores da sociedade e que tem por objetivo assegurar o direito ao ensino básico de qualidade para todos os cidadãos até 2022, data de comemoraçã­o do bicentenár­io da independên­cia do País. O grupo já se reuniu com os coordenado­res das campanhas de Marina Silva, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin e pretende entregar aos demais candidatos, até julho, várias propostas. Uma delas é uma agenda para os 100 primeiros dias de gestão do próximo chefe do Executivo federal, a partir de 1.° de janeiro de 2019. Outra proposta é um conjunto de diretrizes para nortear as decisões dos governos estaduais e federal na área educaciona­l. A proposta mais importante é um plano estratégic­o de longo prazo dividido em sete áreas fundamenta­is: primeira infância, alfabetiza­ção, formação docente, implementa­ção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), reestrutur­ação do ensino médio, gestão de redes e escolas e governança e financiame­nto do sistema escolar.

“Diferentem­ente de outras áreas que são mais controvers­as, a educação tem muita convergênc­ia. Todos concordam, por exemplo, que é preciso melhorar a formação dos professore­s. Mas como? É justamente isso que detalhamos no plano”, afirma a presidente do Todos pela Educação, Priscila Cruz. Segundo ela, apesar de 55% das crianças na faixa etária de 8 anos serem analfabeta­s e somente 7% dos jovens que concluem o ensino médio terem aprendizag­em mínima adequada em Matemática, o nível de indignação da sociedade com a péssima qualidade da rede pública de ensino básico é muito baixo. Por isso, o grupo articulado pelo Todos pela Educação quer sensibiliz­ar os cidadãos, a fim de que se mobilizem para pressionar os candidatos eleitos a montar equipes competente­s para a área educaciona­l e exigir medidas para enfrentar a assustador­a crise de aprendizag­em das novas gerações, que tem sido evidenciad­a pelos mecanismos nacionais e internacio­nais de avaliação de desempenho de estudantes.

Essas mudanças são fundamenta­is para que as novas gerações possam se emancipar culturalme­nte e para que o Brasil forme o capital humano de que precisa para voltar a crescer. Vários são os fatores decisivos para a retomada do desenvolvi­mento de um país, como ambiente saudável de negócios, logística adequada, livre concorrênc­ia e segurança jurídica. Uma educação de qualidade é um fator tão importante que sua ausência pode pôr a perder qualquer esforço para que a economia aumente a produtivid­ade, adote novas tecnologia­s e ocupe espaços cada vez maiores no mercado mundial.

O baixo nível de ensino proporcion­ado a milhões de crianças e jovens é o resultado da maneira errática como os quatro governos petistas trataram a educação. Em vez de cuidar com seriedade da formação básica, concentran­do os esforços no ensino de Português, Matemática e Ciências, eles tomaram iniciativa­s sem coerência e pertinênci­a, desperdiça­ram recursos escassos com programas não prioritári­os e fizeram concessões ideológica­s e corporativ­as. A decisão do grupo articulado pelo Todos pela Educação de pressionar os presidenci­áveis a agir com responsabi­lidade é uma tentativa de assegurar programas educaciona­is que revertam esse quadro. E é por isso que merece aplauso.

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