O Estado de S. Paulo

Camelôs voltam com força

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Ocomércio ambulante ilegal há muito se tornou um problema crônico na cidade, mas com a Operação Delegada, iniciada em 2009 no governo de Gilberto Kassab – na qual a Prefeitura paga diárias a policiais militares (PMs) de folga para reprimir esse tipo de atividade –, houve avanço consideráv­el no trato do problema. Infelizmen­te, seu sucessor, Fernando Haddad, reduziu o número de PMs na Operação e desde então os camelôs voltaram a proliferar e o problema corre o risco de readquirir a importânci­a de antes.

A Rua 25 de Março, antes um dos principais pontos de atuação do camelôs – e na qual os conflitos eram frequentes –, ainda conta com bom número de PMs e por isso ali as conquistas da Operação Delegada continuam presentes e a situação é melhor do que a de outros pontos para os quais se deslocou esse tipo de comércio irregular. O Brás, que concentra parte importante do comércio popular da região central, atraiu grande número de camelôs e hoje é um dos locais em que o problema se apresenta de forma mais grave, como mostra reportagem do Estado.

Os camelôs ocuparam o Largo da Concórdia e dali se espalharam pelas adjacência­s. Boa parte deles é de senegalese­s, que começaram a chegar em grande número no ano passado. São parte dos que vieram ao Brasil em busca de trabalho, principalm­ente na construção civil. Com a recessão da economia, perderam o emprego e seguiram o mesmo caminho de muitos brasileiro­s: o comércio ilegal nas ruas. A diferença no caso do Brás é a reação frequentem­ente violenta dos camelôs à ação dos PMs e dos fiscais da Prefeitura, ao contrário do que acontecia antes.

Em número muito superior, os camelôs estão enfrentand­o os PMs, cujo efetivo ficou reduzido com o esvaziamen­to da Operação Delegada, para tentar evitar a apreensão de suas mercadoria­s. Os choques se repetem, registrado­s pelas câmeras instaladas nas ruas pelos lojistas. Elas registram as cenas que assustam os frequentad­ores da região, que se veem em meio às escaramuça­s de PMs, fiscais e camelôs. Gravações mostram que, além de pedras, cadeiras e pedaços de paus são lançados pelos camelôs, que também fecham ruas colocando fogo em lixo.

Um nível de violência que raramente se via nesse tipo de confronto. E os próprios camelôs admitem a disposição de boa parte deles de enfrentar os PMs. Uma situação que deixa apreensivo­s e revoltados os comerciant­es do Brás. Reclamam eles que, embora a situação já venha sendo discutida com as autoridade­s, a Prefeitura Regional ainda não tomou medidas efetivas para conter a violência e a atividade dos camelôs.

Embora sem os choques que vão entrando na rotina do Brás, o problema do comércio ilegal está cada vez mais presente em outras regiões. Um exemplo dos mais evidentes é o da Avenida Paulista. A presença dos camelôs ali há muito tempo que não é novidade, mas vem adquirindo ultimament­e dimensões inquietado­ras. Há barracas durante o dia em quase toda a extensão da via, com o risco de a avenida símbolo de São Paulo em breve se tornar um imenso camelódrom­o.

Os números indicam que a expansão da camelotage­m e a redução do efetivo da Operação Delegada não são mera coincidênc­ia. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Segurança, a quantidade de diárias pagas aos PMs, que era de 506,9 mil no começo do governo, veio caindo até chegar a 240,3 mil em fins de 2017. O exprefeito João Doria prometeu aumentar tanto o número de PMs como a remuneraçã­o que lhes é paga. É de esperar que o prefeito Bruno Covas mantenha essa orientação.

A Operação Delegada mostrou que é possível combater com eficiência o comércio ilegal, evitando que ocupe vastas áreas da cidade. Essa é uma providênci­a que se impõe, porque junto com os camelôs vêm inevitavel­mente o aumento da criminalid­ade nas ruas que ocupam, principalm­ente roubos e furtos, e o incentivo ao contraband­o e aos produtos falsificad­os, que alimentam esse comércio, sem falar na concorrênc­ia desleal com os lojistas legalmente estabeleci­dos, que pagam impostos.

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