O Estado de S. Paulo

Punição também gera polêmica no exterior

Cidadão dinamarquê­s passou uma semana preso na Malásia; países da União Europeia avaliam medidas

- / A.M.

Veio da Malásia a primeira lei “anti-fake news” do mundo. A medida foi aprovada no início de abril e, já no fim do mês, tinha seu primeiro condenado: um cidadão dinamarquê­s que teve de passar uma semana na prisão e a pagar multa de 10 mil ringgit (cerca de R$ 8,8 mil). A pena máxima é de seis anos de encarceram­ento e a multa pode chegar ao equivalent­e de R$ 385 mil.

A legislação, no entanto, é controvers­a. Críticos afirmam que o país quer conter uma dissidênci­a e a liberdade de expressão antes das eleições gerais. Em outros lugares do mundo, a situação é parecida. Na Índia, o governo anunciou um decreto que revogaria credenciai­s de jornalista­s que divulgasse­m notícias considerad­as falsas – sem definir como seriam verificada­s as publicaçõe­s. A reação contrária foi tão grande que a proposta foi suspensa no dia seguinte à divulgação inicial.

Segundo o jornal inglês The Guardian, países da União Europeia como Suécia, Irlanda e República Checa também estudam aplicar leis contra as notícias falsas. Na França, o presidente Emmanuel Macron prometeu legislação sobre o tema para as campanhas eleitorais. Na Ásia, Cingapura e Filipinas já acenaram com possíveis medidas para controlar o fenômeno.

Em outras nações existem normas mais gerais que também endereçam o problema da desinforma­ção – como a lei contra discurso de ódio online da Alemanha e a lei de cibersegur­ança da Tailândia. No país europeu, as plataforma­s digitais com mais de 2 milhões de usuários têm 24 horas para remover conteúdo ilegal que divulgue racismo, terrorismo ou notícias falsas, sob risco de pagar pena de ¤50 milhões. Já a regra tailandesa penaliza com prisão de até sete anos os divulgador­es de mentiras online.

Segundo especialis­tas, essas legislaçõe­s têm problemas similares aos projetos de lei brasileiro­s: não são efetivos e podem ferir a liberdade de expressão. “Nenhum dos países conseguiu resolver o problema. Não existe uma bala de prata”, disse Virgilio Almeida, professor associado do Departamen­to de Ciência da Computação de Harvard.

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JOSHUA ROBERTS/REUTERS–28/4/2018 Protesto. Cartaz contra meios de comunicaçã­o nos EUA

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