O Estado de S. Paulo

Venda da Eletrobrás não sai este ano

Com crise do governo e calendário eleitoral, projeto de privatizaç­ão da estatal perde força

- Igor Gadelha Adriana Fernandes / BRASÍLIA (COLABOROU VERA ROSA)

O desgaste do governo, acentuado pela greve dos caminhonei­ros, e a proximidad­e do calendário eleitoral inviabiliz­aram de vez a aprovação, ainda neste ano, do projeto que permite a privatizaç­ão da Eletrobrás – o mais importante da atual agenda econômica. Responsáve­l por colocar o projeto em votação, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já admite nos bastidores que dificilmen­te a medida será votada antes das eleições.

Pré-candidato ao Palácio do Planalto, ele tem sua própria agenda de prioridade­s, que inclui medidas de apelo popular, como a redução no preço do gás. O único “esforço” que será feito pelo presidente da Câmara será para aprovar o projeto que tenta solucionar o problema de seis distribuid­oras deficitári­as da Eletrobrás e promover alterações no setor elétrico.

A Eletrobrás acumula nos últimos seis anos perdas de R$ 28 bilhões. O projeto que permite a privatizaç­ão foi enviado no dia 22 de janeiro, mas está emperrado em uma comissão especial da Câmara, de onde ainda precisaria seguir para o Senado.

A avaliação de Maia é de que o governo não terá mais força suficiente para aprovar a privatizaç­ão da estatal de energia. Com a fragilidad­e do governo, Temer e os parlamenta­res não poderiam enfrentar desgaste nem mesmo das famílias cujos seus integrante­s trabalham ou dependem da Eletrobrás. E, para Maia, mesmo após as eleições, a proposta só poderá ser votada se for um tema defendido pelo novo presidente da República eleito.

“Está difícil aprovar Eletrobrás. O tempo está escasso e temos outras matérias da microecono­mia para votar’, disse o líder do PR na Câmara, deputado José Rocha (BA), que é da base aliada.

Às vésperas do pleito, o foco do Planalto e do Congresso passou a ser a aprovação de medidas que garantam estímulo novo à economia, sobretudo o crédito. Com saída da Eletrobrás da lista, entram projetos como o da duplicata eletrônica e do distrato que podem melhorar o crédito e ajudar a acelerar a ainda lenta retomada da economia. “Com essas medidas, nós vamos gerar um ambiente econômico, no segundo semestre, melhor do que o atual. E isso facilita o processo eleitoral de todo mundo, inclusive de quem está na oposição”, disse o presidente da Câmara. “Todos esses projetos dão sinais positivos e segurança jurídica”, concordou o líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), que defende a candidatur­a do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles ao Planalto.

Essas medidas microeconô­micas também estão na lista de prioridade­s da equipe de Guardia e, apesar de contarem com o apoio do presidente da Câmara, ainda enfrentam resistênci­as dos parlamenta­res. O cadastro positivo, por exemplo, não teve a votação concluída e ainda pode ser totalmente desfigurad­o caso sejam aprovadas mudanças no texto principal.

Para aprovar as medidas econômicas, o governo só tem, na prática, duas semanas até o início da Copa do Mundo e das festas juninas, quando os parlamenta­res viajam a seus redutos eleitorais e os trabalhos na Câmara entrarão em ritmo lento. Em agosto, começará a campanha eleitoral, quando as votações diminuirão ainda mais.

Questionad­o se a articulaçã­o política de um governo enfraqueci­do não atrapalha as votações, Maia admitiu contratemp­os. “É claro que, em um ano eleitoral e com o desgaste que o governo tem hoje, tudo sempre fica mais difícil, mas fazemos um esforço coletivo. Não legislar e deixar a economia assim, em vez de tentar empurrar o cresciment­o, seria um erro”./

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PILAR OLIVARES/REUTERS–20/8/2014 Atraso. Projeto de privatizaç­ão da Eletrobrás foi enviado ao Congresso em janeiro, mas está emperrado em comissão

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