O Estado de S. Paulo

Um tradutor incrível num aparelho muito difícil de usar

- Claudia Tozetto

Quando o Google mostrou pela primeira vez o Pixel Buds, seu par de fones de ouvido que podem traduzir conversas em tempo real, houve uma comoção em torno daquela peça diminuta de hardware, que qualquer pessoa poderia colocar nos ouvidos e, de uma hora para outra, entender todo e qualquer idioma em viagens pelo mundo. Soa revolucion­ário, não é mesmo?

O acessório foi anunciado durante o último evento de hardware do Google, em outubro do ano passado. Na demonstraç­ão, dois funcionári­os da empresa – uma sueca e um americano – mantiveram uma conversa quase em tempo real, falando línguas diferentes.

Funcionou bem nas condições ideais de um evento, com duas pessoas já acostumada­s ao aparelho e conexão de internet de boa qualidade. Mas, na vida real, o produto pode ser complicado de usar para o usuário comum, como a reportagem do ‘Estado’ constatou ao ficar cerca de uma semana com o dispositiv­o para testes.

Com design moderno, os fones vêm numa caixinha, que funciona também como seu carregador. Contudo, como eles têm uma “cordinha” ligando as duas partes dos fones, é difícil encaixar o aparelho dentro do carregador – condição básica para conseguir carregar a bateria do aparelho.

Uma vez que a pessoa consegue fazer isso, bate de frente com outro problema: a configuraç­ão inicial. No caso da unidade que recebemos – que veio acompanhad­a do Pixel 2, também do Google –, o smartphone não reconheceu de imediato o acessório. Após inúmeras tentativas, achamos um botão quase imperceptí­vel dentro da caixa para fazer a conexão manual.

Vencidos os primeiros problemas – que podem fazer o usuário menos paciente desistir de usar o produto – é possível testar seu principal atributo, a tradução simultânea.

O recurso funciona com a ajuda do assistente pessoal do Google, o Assistant, quando você pede, em inglês, que ele te ajude a falar outra língua, como espanhol ou português. O aplicativo precisa estar sincroniza­do com o smartphone, que abre o bom e velho Google Tradutor quando o usuário dá o comando.

Na prática, quem está usando o Pixel Buds fala a frase em inglês, que será traduzida pelo aplicativo e “lida” em voz alta no aparelho. Depois, a outra pessoa diz a resposta perto do smartphone, que então “lê” a tradução em voz alta para a pessoa que está usando os fones ouvir.

Funciona bem e rápido, graças ao Assistant, que está no centro da estratégia de inteligênc­ia artificial do Google e vem colecionan­do melhorias – lembre-se que o assistente conseguiu, recentemen­te, conduzir uma conversa em tempo real com um humano, sem que ele percebesse. Na maioria dos testes, a tradução saiu a contento, permitindo que o interlocut­or entendesse a mensagem.

Contudo, depois de repetir o processo algumas vezes, a impressão que ficou foi: para que precisamos dos fones de ouvido, se toda a inteligênc­ia está no smartphone e na nuvem (onde a tradução é feita pelo Google Tradutor)? Não seria mais simples apenas usar o smartphone?

Essas dúvidas evidenciam que, ainda, a maior vantagem do Google está no software, não no hardware. E que a gigante precisa investir mais para aprimorar sua estratégia e conseguir criar gadgets realmente úteis.

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