Documentário revela a arma secreta de Kubrick
‘Filmworker’ acompanha a trajetória do ator Leon Vitali, que trabalhava 16 horas por dia ao lado do exigente diretor
No início dos anos 1970, o ator britânico Leon Vitali havia enveredado por uma promissora carreira nos palcos e na TV, quando viu o filme que mudaria sua vida. “No cinema, assistindo a Laranja Mecânica, disse para um companheiro: ‘Quero trabalhar para esse homem’.”
“Esse homem” era o diretor norte-americano Stanley Kubrick (1928-1999). E, alguns anos depois, o sonho de Vitali se tornaria realidade, quando foi escalado para o elenco do drama de Kubrick Barry Lyndon. Vitali mergulhou no ambiente de Kubrick, aprendendo sobre direção de arte, de fotografia e vestuário. Não era só filmar belas imagens, lembra Vitali em Filmworker (sem previsão de estreia no Brasil), documentário sobre sua carreira. “Era fazer cinema.”
Leon Vitali emerge como uma figura enigmática em Filmworker, no qual um sujeito de 69 anos reflete sobre sua devoção a um Kubrick notoriamente exigente, cujo padrão de perfeccionismo Vitali executou com lealdade inquestionável. Desde trabalhar como diretor de elenco – foi ele que descobriu e treinou o ator mirim Danny Lloyd em O Iluminado – a supervisionar incontáveis restaurações e traduções da obra de Kubrick, Vitali passou a ter um papel abrangente no mundo de um cineasta que ainda ocupa um status divino no firmamento cinematográfico.
Passando 16 horas por dia ao lado de Kubrick, Vitali ainda conseguiu se casar e ter filhos, que são entrevistados em Filmworker. Mas o documentarista Tony Zierra não mergulha profundamente na vida pessoal de Vitali, deixando algumas perguntas sem resposta sobre o que deve ter sido o custo psicológico de entregar sua vida à visão artística de outra pessoa.
Então, é apenas o senso implícito de vocação que impulsiona Filmworker. Além do que alguns vêm como uma abnegação quase patológica, torna-se claro que a lealdade de Vitali recai menos sobre o Grande Homem do que no empreendimento criativo maior ao qual ele está ligado, instintivamente.
Filmworker é um tributo aos artesãos anônimos, assistentes, funcionários da iluminação e eletricistas e assistentes pessoais cujas contribuições indeléveis tornam os filmes não apenas possíveis, mas também mágicos.