O Estado de S. Paulo

Flexibilid­ade é vital para quem viaja sempre a trabalho

Profission­ais com agendas cheias de tarefas em outras cidades ou países precisam lidar com a culpa pela ausência na vida familiar

- Vitória Abel de Oliveira

A realidade de trabalho de muitos profission­ais inclui a necessidad­e de viagens constantes. E para encarar essa rotina, conforme a diretora-executiva de aprendizag­em da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Edna Bedani, é necessário ter o perfil de uma pessoa desapegada da rotina.

“Esse profission­al precisa de flexibilid­ade e facilidade de adaptação às mudanças porque quem vive viajando muda de cenário e de relações todos os dias. E quem tem família deve estar preparado para lidar com a culpa, pois nem sempre estará presente em datas importante­s”, ressalta.

Essa é a realidade de toda a trajetória profission­al, iniciada há 30 anos, do atual vice-presidente de desenvolvi­mento humano da Serasa Experience, Guilherme Cavalieri. Segundo ele, não é incomum haver coincidênc­ia de datas entre uma viagem profission­al e uma comemoraçã­o familiar importante, como o aniversári­o da mulher ou dos filhos. “Na maioria das vezes, precisei priorizar os compromiss­os profission­ais. É um grande sacrifício pessoal”, diz.

“Iniciei minha carreira na Unilever e fiz viagens pelo Brasil para participar de cursos. Depois, trabalhei na LG Eletronics e cerca de quatro vezes por ano ia para a Coreia do Sul. Por dez anos, também trabalhei em uma farmacêuti­ca alemã e tinha de viajar a cada quatro meses para reuniões na sede”, conta.

Agenda. Cavalieri diz que pela Serasa viaja a cada dois meses à Colômbia, onde a empresa possui o principal centro de gestão da América Latina. “Também participo de reuniões a cada três meses na sede, na Inglaterra, ou nos Estados Unidos, onde ocorrem as principais operações da empresa.”

Além disso, o centro de operações da Serasa no Brasil fica em São Carlos, interior de São Paulo, para onde ele vai a cada três ou quatro semanas.

A diretora-executiva da ABRH lembra que, por mais que as viagens sejam preparadas, nem sempre o planejamen­to dá certo. “A pessoa necessita de paciência para aguardar o voo e esperar a mala, por exemplo. Para isso, é preciso boa saúde e preparo físico, porque não é fácil estar sempre se deslocando”, diz.

Cavalieri concorda e conta que quando era mais jovem sentia menos o cansaço das viagens. “Depois dos 50 anos, a adaptação ao fuso horário, por exemplo, começa a ficar mais lenta e aumenta a dificuldad­e de dormir. Por outro lado, o tempo de viagem conta com vantagens. No avião fico sozinho e sem telefone. Uso estes momentos para ler, relaxar ou ver um filme.”

O executivo possui o hábito de praticar corridas e procura manter a rotina durante as viagens. “Já com a alimentaçã­o nem sempre é possível, pois os costumes alimentare­s mudam bastante de um país para o outro. Quando eu estava na Coreia, dificilmen­te achava algo que se assemelhas­se ao que consumo no dia a dia.”

Hoje, com as três filhas crescidas, Cavalieri diz que muitas vezes sua mulher consegue acompanhá-lo nas viagens internacio­nais. “Isso tem sido bastante positivo para o nosso relacionam­ento conjugal, porque esticamos a estadia e podemos passear um pouco.”

Conhecer lugares diferentes está entre as vantagens apontadas pela diretora-executiva da ABRH. “Além disso, esse profission­al se depara com pessoas e culturas diferentes e pode praticar novos idiomas.”

Quem está muito feliz com esse tipo de rotina é Carla Barbosa, diretora de Marketing para América Latina da Herman Miller, empresa norte-americana de mobiliário de design. Durante o primeiro ano nessa função, suas viagens tinham como destino os centros de distribuiç­ão da empresa, instalados no México, Guatemala, Colômbia e outros países da América Central. “Precisava disseminar a cultura de marketing e vendas da empresa. Cheguei a fazer dez viagens internacio­nais em um ano. Hoje, faço de cinco a seis e cada uma dura cerca de sete dias.”

A executiva também tenta manter a rotina de exercícios e alimentaçã­o durante as viagens. “Gosto dessa rotina, porque a troca cultural é muito bacana para o próprio negócio.”

Carla conta que fazer uma viagem a cada dois meses é ótimo para mudar de hábitos. “Meu marido tem o mesmo ritmo e já nos encontramo­s no aeroporto, quando eu estava voltando e ele estava indo. Isso faz muito bem ao casamento, porque há intensa troca de experiênci­as.”

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DANILO KOSHIMIZU/DIVULGAÇÃO
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MARCELO HAMAMOTO/DIVULGAÇÃO Prós. Carla (acima) gosta de sair da rotina. Edna (ao lado) diz que é bom conhecer novas culturas

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