Engajamento ou lucro?
Ideia é que recursos de leis de incentivo não fiquem concentrados nos mesmos proponentes, o que é praxe no mercado
Na dúvida, diversos empresários
optam pelos dois e lançam negócios de alto impacto social e rentabilidade, afinal, sem recursos é impossível fazer o negócio crescer e beneficiar mais pessoas
A plataforma Simbiose Social, criada por Raphael Mayer, Mathieu Anduze e Tadeu Silva, nasceu para fortalecer a conexão entre o primeiro, segundo e terceiro setor, em relação à captação de recursos por meio das leis de incentivo. “Queremos provar que ganhar dinheiro e gerar impacto social podem andar juntos e mudar a realidade de muitas pessoas”, diz Mayer.
A ideia do negócio surgiu quando os amigos Mayer e Anduze trabalhavam, respectivamente, nas áreas de marketing da Ambev e da Unilever. “Ao conhecermos os mecanismos das leis de incentivo, que permitem às empresas direcionar parte dos impostos a projetos de impacto social, vimos que havia problemas para gerir tais recursos, principalmente pela falta de informação”, diz Anduze.
Por serem patrocínios, as leis têm atreladas a elas contrapartidas e, às vezes, projetos de alta visibilidade tinham fácil acesso dentro das empresas, enquanto projetos menores, que precisavam mais de recursos, não tinham a mesma facilidade.
“Muitos recursos ficavam concentrados entre os mesmos proponentes, o que nos incomodava. Conversamos com outras empresas e vimos que isso era comum”, afirma Mayer.
• Facilidade “As empresas que adotam nosso sistema de busca de projetos podem gerir os seus impostos de forma inteligente e ágil” Raphael Mayer SÓCIO DA SIMBIOSE SOCIAL
Ao estudar esse mercado, eles descobriram que 71% dos projetos aprovados no País morriam no papel, por não conseguirem captar recursos. Do lado das empresas, o direcionamento de recursos fiscais não atingia 50% do teto anual.
“Em meados de 2016, procuramos órgãos públicos para obter mais informações, mas precisamos acessar a lei de transparência contra os ministérios para obter os dados. Então, convidamos para a sociedade o programador Tadeu Silva que desenvolveu um robô que entra no sistema de informação de cada secretaria e ministério e baixa os dados públicos dos projetos para a nossa base de dados.”
Após consolidar as informações, a Simbiose Social obteve dados históricos de leis de incentivo de 1992 até hoje. “Mapeamos e detalhamos informações de 182 mil projetos, sendo que, no momento, 30 mil estão na fase de captação. Nosso sistema
atualiza as informações a cada cinco horas”, conta Anduze.
O volume de dados despertou interesse do Centro de Pesquisas da Fundação Getúlio Vargas. “Fomos incubados por eles e iniciamos pesquisa conjunta para cruzarmos esses dados e torná-los gerenciáveis de forma simples”, diz Mayer.
Hoje, a plataforma tem três focos principais de atuação e os sócios acreditam que podem mudar a realidade do País por meio das leis de incentivo.
“As empresas que adotam nosso sistema de busca de projetos podem gerir os seus impostos de forma inteligente e ágil. Quando selecionam um projeto para investir, nós o auditamos e fornecemos uma análise de risco à empresa.”
Segundo eles, 78% desses recursos estão no eixo Rio-São Paulo. Para ajudar as propostas criadas em outras partes do País, eles desenvolveram um sistema que cruza as informações históricas dos patrocinadores.
“Por meio dele, o proponente lança as características de seu projeto e obtém análise que indica as empresas com probabilidade de investir nesse tipo de proposta. Assim, eles sabem atrás de quem ir.”
Outra fonte de receita será o Índice Social de Mercado de Leis de Incentivo. Realizado em parceria com a FGV, o indicador vai metrificar a qualidade do investimento socioeconômico de cada empresa no âmbito de cultura, para identificar quem investe com foco social ou as empresas que usam a lógica de marketing. Os sócios contam que a ferramenta tem potencial de ser empregada em outros países que usam leis de incentivo. “Isso deve ocorrer dentro de três ou quatro anos.”