O Estado de S. Paulo

Ele voltou

Em Liverpool, atacante retorna após três meses parado e abre caminho para vitória do Brasil sobre a Croácia, mas time continua sujeito ao brilho dele

- Almir Leite ENVIADO ESPECIAL / LIVERPOOL

Depois de três meses se recuperand­o de cirurgia no pé direito, Neymar voltou em grande estilo aos gramados. No jogo contra a Croácia, ontem – penúltimo amistoso da seleção antes da estreia na Copa do Mundo –, o atacante entrou no segundo tempo e marcou o primeiro gol da vitória por 2 a 0. O segundo foi de Roberto Firmino (na foto, atrás de Neymar ). Emocionado, Neymar disse estar com 80% de sua condição. Tite, no entanto, não garantiu que ele começará jogan- do o próximo amistoso, domingo, con- tra a Áustria.

Neymar voltou! Um retorno bastante aguardado, com três meses de espera e que cresce de importânci­a com a proximidad­e da Copa. Mas a reaparição do principal atleta do Brasil ontem, na vitória sobre a Croácia por 2 a 0, em Liverpool, além do óbvio motivo para comemoraçã­o, trouxe à tona uma preocupaçã­o que parecia adormecida: a de que a seleção, no seu momento mais importante, véspera de Mundial, continue a depender exclusivam­ente dele.

Foi certamente com essa sensação que o brasileiro acordou hoje. O desempenho do time no primeiro tempo do jogo em Anfield Road, penúltimo teste da equipe antes da estreia na Rússia (domingo o Brasil joga contra a Áustria, em Viena, e depois ruma para Sochi), fez voltar esse “fantasma” que Tite lutou para exorcizar nas Eliminatór­ias. Com formação menos ousada, em que Fernandinh­o tinha a função de ajudar Casemiro na marcação, liberando Marcelo para apoiar, mas sem perder qualidade e rapidez na saída de bola, a seleção não andou.

A Croácia fez o que Tite gosta de fazer: marcação alta e forte, para sufocar o rival. Assim, impediu o Brasil de jogar na etapa inicial, quando Neymar estava roendo unhas no banco. O Brasil não teve alternativ­a de saída de bola, Marcelo não conseguiu apoiar e o meio-campo não criou nada. Tite, atento a tudo, sabe que terá de trabalhar mais para melhorar até a estreia contra a Suíça, que não deverá atacar tanto, mas será um adversário bem mais fechado na defesa.

O treinador vive seu primeiro dilema para a Copa. Está entre manter um meio de campo com três volantes, amarrado, mas bem forte defensivam­ente, e apostar numa formação mais ofensiva, com Neymar, Willian e Philippe Coutinho na criação.

Em Liverpool, o time viveu ofensivame­nte do esforço de Willian pela direita. Gabriel Jesus apareceu mais tentando sufocar o goleiro – o Brasil também marca forte a saída de bola – do que concluir a gol. Não teve chance. Apesar de ter ficado com a bola, o Brasil foi dominado e envolvido na parte inicial.

Mas Neymar entrou após o intervalo, conforme planejado por Tite, e o jogo mudou. Os dois treinadore­s fizeram várias alterações, o que também contribuiu para o panorama do segundo tempo. A Croácia deu uma afrouxada na marcação e o Brasil passou a movimentar-se mais e com mais objetivida­de.

O jogo poderia seguir modorrento não fosse por Neymar. O craque retornou no dia em que completou três meses da cirurgia a que se submeteu no pé direito. No início, estava tímido, mas foi se soltando, tentou tabelas e arrancadas. Sofreu duas faltas que fizeram a torcida brasileira levar as mãos à cabeça. Levantou-se e seguiu em pé.

Não era ainda uma volta de empolgar até receber bola de Willian e sair limpando os marcadores em direção ao gol. Passou por dois num curto espaço e soltou a bomba, sem defesa para o atônito goleiro croata. Todos viram então que Neymar estava de volta. O Brasil abria o marcador. Emocionado, ele comemorou muito. Primeiro com os companheir­os, depois com o médico Rodrigo Lasmar, a quem foi abraçar e que o operou, e ainda com o fisioterap­euta Rafael Martini, seus dois anjos da guarda nestes três meses.

Firmino marcaria o segundo gol do Brasil, mas o jogo já estava decidido graças à volta de Neymar. Ontem, a seleção brasileira dependeu novamente dele, exatamente como ocorria nos tempos de Felipão e Dunga.

Tite sempre lutou contra isso. “Ele é um jogador diferente, mas não pode ser dada a responsabi­lidade de decidir só a ele, porque fica desumano. Neymar é parte integrante de um conjunto que deve ser forte”, repetiu o treinador da seleção.

É fato que Tite deu novo padrão ao time. Venceu várias vezes sem Neymar. O Brasil não dependeu dele nas Eliminatór­ias. Ganhou de Rússia e dos reservas da Alemanha sem o craque. Mas na véspera da Copa, em jogo duro, foi Neymar que salvou. Foi só um teste. Mas um teste em que o desempenho do Brasil, sem ele, foi reprovado.

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WILTON JUNIOR / ESTADÃO
 ?? WILTON JUNIOR/ESTADÃO ?? Neymar. Atacante entra no segundo tempo, marca gol e comemora seu retorno ao futebol após três meses ausente por lesão, mas admite que ainda sente incômodos no pé operado
WILTON JUNIOR/ESTADÃO Neymar. Atacante entra no segundo tempo, marca gol e comemora seu retorno ao futebol após três meses ausente por lesão, mas admite que ainda sente incômodos no pé operado

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