O Estado de S. Paulo

‘PT vai utilizar as eleições para fazer a defesa do Lula’

Para o petista, com o ex-presidente preso, vencer a disputa deve ficar em segundo plano na estratégia do partido

- Ricardo Galhardo

O PT precisa deixar mais claro internamen­te e para possíveis aliados que vai usar as eleições deste ano para fazer dois movimentos distintos e simultâneo­s. O primeiro e mais importante é a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato. O segundo é eleitoral. A avaliação é do prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT). Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Qual a sua avaliação sobre a tática do PT de manter a candidatur­a do ex-presidente até o fim? Penso que não há outro caminho do que o PT usar, de forma pensada e dialogada internamen­te, com os aliados e com a sociedade, a campanha eleitoral como o momento ímpar de defesa do legado Lula, que é maior do que o próprio Lula. Isso não é um erro, mas tem que ficar muito claro para os aliados e a sociedade.

Está havendo esse diálogo? Estou muito afastado da direção, mas nas oportunida­des que tive de diálogo vi que começa a clarear a percepção de que isso deve ser feito abertament­e. Significa que o PT estará abrindo mão de ganhar as eleições? Não. Ganhar as eleições é importante para a retomada de um projeto nacional, mas não pode ser omitido que o momento é especial para a defesa do legado do Lula. O PT não está errado se escolher este caminho, mas isso não pode contaminar o movimento maior que o PT tem de participar, ter a capacidade de aglutinar forças políticas partidária­s e uma articulaçã­o mais ampla do que os próprios partidos.

O PT deve priorizar a defesa de Lula no processo eleitoral?

Não tenho nenhuma dúvida. Mas penso que este movimento tem de ser racional e debatido com a sociedade. O PT vai manter a candidatur­a do Lula porque é a única forma de fazer a defesa dele e do legado dele. Dizer ‘olha, nós vamos usar as eleições para que este debate seja feito’ não está errado, mas tem de ser feito de forma muito clara: o PT quer ganhar as eleições, mas quer usar as eleições para fazer este debate. O que me preocupa? Temos que ser capazes de fazer um movimento maior do que o eleitoral, sem que uma coisa contamine a outra.

Este movimento atrapalha a relação com os aliados?

Tem contaminaç­ões. Várias turbulênci­as podem ser evitadas se isso for debatido de forma mais clara.

Por exemplo?

Não há porque ficarmos criando atritos com Ciro Gomes

(pré-candidato do PDT). É um personagem importante para este movimento mais amplo e, se nós dialogarmo­s sobre qual o papel que o PT vai cumprir neste processo eleitoral, tenho certeza que ele vai compreende­r, assim como o Guilherme Boulos (PSOL) e a Manuela

(D'Ávila, do PCdoB). Vão entender que o PT vai utilizar as eleições para fazer a defesa do Lula. Não vai haver falsas polêmicas, falsos embates, se dissermos a eles que no momento certo estaremos juntos na disputa, mas queremos construir com eles algo mais amplo.

Essa estratégia não prejudica o PT?

O PT não pode ir para o isolamento. Por isso, entendo que precisamos construir um campo maior do que o processo eleitoral. Isso definitiva­mente nos tira do isolamento e deixa claro para a sociedade, para os governador­es qual é o papel das eleições para nós neste momento. Deixar claro porque é tão importante para o PT tratar como centro do debate a defesa do Lula. E que vamos tentar construir uma vitória eleitoral que, se não for nossa, seja de algum aliado.

O sr. considera certa a forma como o PT se relacionou com grandes doadores?

Penso que depois de quatro anos precisamos pensar na retomada da estabilida­de política e nas reformas que precisam ser feitas, principalm­ente a eleitoral. O erro que o PT cometeu foi ter reproduzid­o o mesmo sistema eleitoral que todos os outros partidos. Fica estranho aos olhos da sociedade a subjetivid­ade na interpreta­ção da lei. Isso enfraquece o Judiciário.

O sr. é alvo de processo criminal na Lava Jato. Teme essa “subjetivid­ade”?

Tudo que sofri de acusação foi de quando ocupei o cargo de tesoureiro da campanha (de Dilma Rousseff em 2014). Nunca participei de reunião envolvendo a Petrobrás. Então, se a acusação contra o (Geraldo) Alckmin (PSDB) é eleitoral, a minha é muito mais. Só que a dele está na Justiça Eleitoral e a minha está na Criminal.

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GABRIELA BILO / ESTADÃO–17/5/2018 Alianças. Edinho diz que PT não pode ficar isolado

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