O Estado de S. Paulo

Estratégia de Steve Bannon para vencer

Plano do Partido Republican­o parece ser o de transforma­r a eleição de meio de mandato em uma série de disputas locais

- FAREED ZAKARIA CLAUDIA BOZZO / TRADUÇÃO DE

OPartido Republican­o está enfrentand­o débeis perspectiv­as nas próximas eleições de meio de mandato. Mas não precisa ser assim, diz Steve Bannon, o principal ideólogo da onda populista que levou Donald Trump à Casa Branca. “Se os republican­os continuare­m no rumo em que estão”, disse-me Bannon na quinta-feira, “perderão 40 cadeiras na Câmara e o presidente Trump será destituído”. Ele apresentou uma alternativ­a que me parece inteligent­e, e é uma estratégia que o próprio Trump parece instintiva­mente entender.

Bannon estava em Roma para dar apoio à insólita coalizão de populistas e nacionalis­tas que, juntos, conquistar­am metade dos votos na recente eleição italiana. Bannon encara esse tipo de coalizão – uma mistura de esquerda e direita, idosos e jovens – como sua meta para os EUA. “A Europa está mais ou menos um ano à frente dos EUA. Podemos ver movimentos populistas e nacionalis­tas com a reforma (aqui). Pode-se começar por ver os adeptos de Bernie Sanders unidos à mobilizaçã­o de Trump que realmente se torna uma força política dominante na política americana. (Esta coluna tem como base uma entrevista transmitid­a ao vivo comigo na CNN e uma conversa posterior.)

A estratégia do Partido Republican­o, por enquanto, parece ser a de transforma­r a eleição de metade do mandato do presidente, numa série de disputas locais com foco no corte de impostos e na economia saudável. Bannon encara isso como fundamenta­lmente equivocado. “É preciso nacionaliz­ar a eleição”, disse. Bannon entende que os eleitores são movidos mais por instinto do que pelo raciocínio para uma análise instável sobre impostos. “Esta será uma (eleição) emocional – ou você está com Nancy Pelosi (líder democrata na Câmara) ou com Donald Trump. A segunda corrida presidenci­al de Trump será em 6 de novembro.”

Bannon está mais focado na questão da imigração, pois atinge tanto corações quanto mentes. “A imigração não se refere apenas à soberania. É sobre empregos.” Ele acredita que a coalizão Trump pode atrair mais de um terço dos adeptos de Bernie Sanders, que vêm o comércio e a imigração como responsáve­is por criar uma concorrênc­ia desleal para empregos, particular­mente para os negros e hispânicos da classe trabalhado­ra. Ele defende que se faça um apelo direto a tais eleitores: “Você não vai ser capaz de levar a comunidade hispânica e negra do sistema STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) que é ensinado na escola primária, às nossas melhores escolas de engenharia. Para os grandes empregos no Vale do Silício, a menos que se comece a limitar a concessão dos vistos H-1B (de trabalhos temporário­s para estrangeir­os com baixa escolariza­ção) e essa concorrênc­ia desleal do leste da Ásia e do sul da Ásia.”

Agora isso me parece totalmente errado. A razão pela qual não há suficiente­s alunos negros e de origem hispânica no Vale do Silício tem muito mais a ver com um sistema educaciona­l lamentável, especialme­nte para as crianças mais pobres, do que o modesto número de imigrantes asiáticos qualificad­os que recebem vistos de trabalho. O resultado mais provável de limitar esses vistos é que os imigrantes mais talentosos simplesmen­te irão para outros lugares e criarão empresas de sucesso. E, de fato, existem muitas evidências de que isso já está acontecend­o.

Mas Bannon está correto de que esta é uma estratégia eleitoral brilhante. A ideia de maiores controles de imigração tem inegável apelo generaliza­do. O Partido Democrata está muito à esquerda em muitas dessas questões o que só reforça a imagem de um partido mais preocupado com etnia, identidade e multicultu­ralismo do que o Estado de direito.

Onde Bannon é analítico e histórico, Trump é instintivo. Mas o presidente parece ver a situação da mesma forma. Escrevi no mês passado que Trump tentaria usar a imigração nas eleições de meio de mandato e acrescente­i: “Não se surpreenda se Trump também se decidir por alguns confrontos com atletas negros”. Nas últimas semanas, o presidente sugeriu que os jogadores de futebol que protestam em silêncio pela violência policial contra os negros deveriam deixar o país.

Bannon acha que Trump está apenas começando a nacionaliz­ar a eleição em torno da imigração. Ele prevê que a próxima grande batalha será sobre o muro proposto ao longo da fronteira entre os EUA e o México. “O muro não é apenas um símbolo emblemátic­o. O paredão é absolutame­nte fundamenta­l para seu programa.”

Infelizmen­te, mas não com surpresa, Bannon não acha que a luta e o rancor nos EUA vão desvanecer tão cedo. “A batalha entre os nacionalis­tas e os favoráveis à globalizaç­ão está nas raízes fundamenta­is do que os EUA são e do que serão”, afirmou. “Isso é muito saudável, e acho que vai durar muito tempo. Temos muito mais brigas e muito mais cicatrizes para superar.”

Ele acredita que a coalizão Trump pode atrair mais de um terço dos adeptos de Bernie Sanders

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