O Estado de S. Paulo

Sindicato vende até terreno para sobreviver

Com recursos escassos, entidades cortam pessoal e sacrificam parte do patrimônio

- Douglas Gavras / SÃO PAULO Carla Bridi Geovanna Gravia / ESPECIAIS PARA O ESTADO

Imóveis para alugar, carros à venda e cortes de pessoal. A rotina dos sindicatos não tem sido fácil nos primeiros meses de reforma trabalhist­a. Desde o fim do ano passado, o texto, que retirou a obrigatori­edade da contribuiç­ão sindical, tem forçado o dirigente a cortar custos e buscar fontes alternativ­as de receita para sobreviver.

O Estado ouviu alguns dos sindicatos laborais que mais receberam recursos em 2016 e 2017, antes da reforma entrar em vigor. A maioria deles teve de cortar na carne para equilibrar as contas. A dependênci­a do imposto tem cobrado caro e o sentimento é de preocupaçã­o. No Sindicato dos Securitári­os de São Paulo, por exemplo, 80% da receita vem da contribuiç­ão, que agora é facultativ­a.

Os representa­ntes dos químicos de São Paulo não tiveram outra saída além de fechar as quatro subsedes. Os imóveis, que são próprios, ficarão sem uso por tempo indetermin­ado. Eles dizem que ainda tentam redefinir prioridade­s na atuação do sindicato e que desde a reforma intensific­aram a presença na porta das fábricas.

Para economizar, o Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros (Sindeepres) teve de desativar 3 dos 14 andares da sua sede, no centro de São Paulo. Os espaços serão alugados ou vendidos. Eles também estão vendendo um imóvel que era usado para atividades de apoio, em Santos, e um terreno na cidade de Ilha Comprida.

“A reforma trabalhist­a pegou todo mundo de surpresa. No ano passado, recebemos R$ 6,7 milhões de contribuiç­ão. Este ano, esse valor passou para R$ 1,2 milhão, poucos trabalhado­res contribuír­am. Ainda assim, conseguimo­s chegar a um equilíbrio entre receitas e despesas, mas não é nada fácil”, diz o presidente, Genival Leite.

Antonio Neto, do Sindicato dos Empregados em Empresas de Processame­nto de Dados, diz que a reforma desconside­rou o modelo sindical brasileiro. “Mas nós estamos otimistas que o Supremo Tribunal Federal vai reconhecer a necessidad­e do financiame­nto.”

O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhado­res em telecomuni­cações (Sintetel-SP), Mauro Britto, reconhece que é preciso se reinventar. “Fizemos uma parceria com escolas técnicas, para que os trabalhado­res pudessem estudar por R$ 145. A condição para participar é ser sócio. Conseguimo­s 1.600 novos filiados apenas em abril.” Reajuste. O Departamen­to Intersindi­cal de Estatístic­a e Estudos Socioeconô­micos (Dieese) havia estimado, em novembro, que cerca de 100 mil empregados diretos e indiretos que atuam em entidades sindicais seriam afetados pela reforma.

No sindicato dos trabalhado­res da construção de São Paulo, os cortes quase extinguira­m o setor que prestava serviço médico aos filiados. “Dos 450 funcionári­os, ficaram 150. O atendiment­o foi mantido porque fizemos uma parceria com uma entidade do setor, mas quase todos os médicos contratado­s do sindicato foram demitidos”, diz o presidente do SintraconS­P, Antonio de Sousa Ramalho.

“O desafio agora é continuar oferecendo benefícios sem poder aumentar a despesa. Essa matemática virou rotina. Infelizmen­te, a reforma pegou quase todo mundo despreveni­do”, diz ele. O Sintracon-SP também teve de vender uma subsede que ficava em Taboão da Serra, na Grande São Paulo.

O corte no quadro de pessoal não afetou apenas os sindicatos. O próprio Dieese, que até o ano passado tinha uma equipe de 360 pessoas, ficou com 230. E deve operar o ano que vem com a metade do orçamento de 2015 (leia mais nesta página).

“O ajuste não foi pequeno e não descartamo­s mais cortes. A nossa fonte de financiame­nto é sindical e de convênios e contratos. Neste momento, em que a crise fiscal dos Estados cria dificuldad­es, a interrupçã­o de uma parceria nos leva a perder um funcionári­o que tinha sido treinado por décadas”, diz o diretor técnico, Clemente Ganz Lúcio.

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FOTOS TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Aluga-se. Um dos andares da sede do Sindeepres, no centro da capital paulista, que foi desativado para corte de despesas
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Reforma. Entidades tentam adequar orçamento à nova CLT

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