O Estado de S. Paulo

Ministro vê uso político da OIT em caso trabalhist­a

Helton Yomura ataca órgão que incluiu Brasil na lista dos 24 casos considerad­os como mais graves de suspeitas de violação de direitos trabalhist­as

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE/ GENEBRA

Num raro gesto por parte do Brasil, o governo ataca abertament­e a Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho por ter incluído o País na lista dos casos que serão avaliados de suspeitas de violações de convenções trabalhist­as. Em Genebra desde ontem para encontros na entidade internacio­nal, o ministro do Trabalho, Helton Yomura, criticou a OIT por esta se deixar ser “instrument­alizada” no debate político doméstico.

Na semana passada, o Estado revelou que, por conta da pressão dos sindicatos brasileiro­s e internacio­nais, a OIT incluiu o Brasil na lista dos 24 casos considerad­os como mais graves de suspeitas de violações de direitos trabalhist­as pela Comissão de Normas. O motivo foi a reforma trabalhist­a, aprovada pelo governo de Michel Temer, e em especial a questão sobre as negociaçõe­s coletivas. No centro do debate está a Convenção 98 da OIT.

O governo, porém, não poupou críticas à entidade com sede em Genebra e promete repetir o mesmo discurso quando tomar a palavra diante dos demais governos, na Suíça. “O processo de inclusão do Brasil na lista curta de casos a serem examinados pela Comissão de Normas foi eivado de anomalias, para não dizer irregulari­dades, que demonstram a politizaçã­o do caso”, disse o ministro.

Segundo ele, pelo calendário da OIT, o debate sobre a Convenção 98 apenas deveria ocorrer em 2019, o que sugeriria que, ao antecipar a questão, a motivação seria eleitoral. “Os peritos antecipara­m o exame do Brasil sem apresentar qualquer justificat­iva”, disse. “Dada a falta de gravidade da situação e a fragilidad­e da análise técnica dos peritos, temos motivos para acreditar que a única explicação é que, em 2019 ou 2020, tal exame não teria impacto no cenário eleitoral”, insistiu.

Num cenário considerad­o como “normal”, seriam técnicos que iriam até a OIT para fazer a defesa da posição do governo brasileiro durante a reunião da Comissão de Normas. Mas, diante do que Brasília considera como uma politizaçã­o do debate, o próprio ministro é quem assumirá a responsabi­lidade de apresentar a versão das autoridade­s. A sessão para tratar do Brasil ocorrerá amanhã, em Genebra.

Peritos. “As observaçõe­s dos peritos não têm consistênc­ia técnica e não há motivo algum para o caso brasileiro ser examinado pela Comissão de Normas nesse momento”, disse o ministro, antecipand­o seu discurso de terça. “De certa forma, os próprios peritos reconhecem que a situação não é grave. Do contrário, teriam incluído o Brasil na lista automatica­mente. Os comentário­s dos peritos deram margem, contudo, para que algumas centrais forçassem o exame do caso do Brasil agora.”

Segundo ele, “foi uma escolha política-ideológica. É lamentável que a OIT se deixe instrument­alizar para o jogo político doméstico dessa maneira”. A crítica, disse, foi expressada ao diretor-geral da OIT, Guy Ryder, e será repetida amanhã.

“É importante registrar que as críticas ao sistema não vêm de hoje e não são casuístas. O Grupo da América Latina e Caribe, que reúne 33 países, tem denunciado a necessidad­e de revisar os métodos da Comissão de Normas há anos. O caso do Brasil só ilustra a premência dessa reforma”, disse.

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JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL–23/5/2018 Defesa. Ministro Yomura ataca a OIT

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