O Estado de S. Paulo

Acordo com UE pode ficar para depois das eleições no Brasil

Reunião do Mercosul que ocorre no Uruguai é a última chance para que acerto comercial seja concluído ainda este ano

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

O Mercosul entra em fase decisiva de negociação para um acordo comercial com a União Europeia e realiza, a partir de hoje, em Montevidéu, reunião que pode ser a última chance para que o tratado seja concluído neste ano. Para o bloco sul-americano, a responsabi­lidade pelo avanço no processo é da Europa.

O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, deixou claro que, neste momento, não é o Mercosul quem precisa incrementa­r sua oferta e afirma que não há como garantir que o acordo possa ainda ser fechado neste ano.

“O Mercosul já fez sua proposta e cabe à UE avaliar e responder”, disse o uruguaio, que nos próximos dias assumirá a presidênci­a do Mercosul.

O acordo estava prestes a ser fechado em dezembro, após o Mercosul apresentar oferta de abertura de seu mercado. Mas, por falta de concessão suficiente dos europeus no setor agrícola, o bloco achou que o processo negociador deveria continuar.

Para o Mercosul, são as cotas considerad­as como insuficien­tes no setor do açúcar e carnes, além de barreiras ainda existentes em outras áreas, que impedem um acordo. “Temos muitos pontos de acordo já. Isso é uma realidade”, disse Vazquez. “Mas ainda temos temas muito importante­s a serem tratados. Talvez se possa fechar o acordo neste ano. Mas digo talvez”.

Custo alto. Em janeiro, o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, se mostrou pessimista com a possibilid­ade de um acordo com os europeus. “O Mercosul entregou tudo e custou caro para nós essa entrega”, disse, em referência às concessões feitas em determinad­as áreas comerciais. “Sinceramen­te, não temos mais nada a entregar. São eles que precisam agir”.

Bruxelas, por sua vez, alerta que caberá ao Mercosul fazer concessões em setores estratégic­os para permitir que o tratado negociado há quase 20 anos finalmente seja selado.

Em declaração enviada por email, a Comissão Europeia deixou claro que espera da parte do Mercosul ofertas mais generosas para que haja entendimen­to. Os europeus alertam que novas concessões terão de ser apresentad­as por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai para que haja um avanço. “Há ainda trabalho por ser feito em assuntos pendentes”, indicou a Comissão. “Isso vai exigir esforço consideráv­el de nossos parceiros do Mercosul, especialme­nte em veículos, autopeças, indicações geográfica­s, transporte marítimo e produtos lácteos”.

Bruxelas indica querer mais abertura do Mercosul para a importação desses setores para atender pedidos por novas aberturas no setor agrícola, constante demanda do Mercosul.

Em ambos os lados do Atlântico, porém, está claro que o acordo não deverá ser negociado antes das eleições no Brasil. O governo alemão, por exemplo, já insinuou que, se não houver entendimen­to neste mês, o processo ficará para 2019.

Custo alto •

“O Mercosul entregou tudo e custou caro para nós essa entrega. Sinceramen­te, não temos mais nada a entregar. São eles que precisam agir.” Blairo Maggi

MINISTRO DA AGRICULTUR­A

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