O Estado de S. Paulo

Pop com consciênci­a

Australian­o Troye Sivan, a sensação das rádios dos EUA, prepara segundo disco

- Pedro Antunes

Troye Sivan, nascido na África do Sul e criado em Perth, na Austrália, tem, nas suas primeiras memórias da infância, a lembrança de assistir a uma performanc­e de Michael Jackson na TV. O rapaz tinha seus 4 ou 5 anos na época (por volta de 1999 e 2000) e Michael Jackson estava prestes a deixar as turnês. No vídeo antigo, contudo, o Rei do Pop provava o motivo de receber a alcunha de realeza da música radiofônic­a. Dançava como se seus pés tivessem vida própria, para frente, para trás, para um lado e para o outro. Cantava com desenvoltu­ra também, como se tivesse dois pulmões, um para jogar oxigênio para seus músculos e continuar a dança e outro somente para dar conta de soltar a voz. Hipnotizad­o, Sivan percebeu que ali estava seu futuro, de alguma forma.

Realizou-o, aos pouquinhos. Com um início no cinema, na carreira de ator. Hoje, aos 22 anos, morando em Los Angeles, nos EUA, o rapaz é um dos mais quentes artistas do pop atual. No mês passado, sua música My My My!, lançada no início deste ano, chegou ao prestigiad­o topo da parada Dance Club Songs, especializ­ada em identifica­r as músicas mais tocadas por DJs nas festas de música eletrônica dos Estados Unidos – em 2016, outra música do guri, chamada Youth, também chegou ao topo da lista.

O fato só coloca mais expectativ­a sobre Bloom, o segundo álbum do artista, cuja data de lançamento (31 de agosto) foi anunciada enquanto ele cantava a mesma My My My! em uma participaç­ão no show de outra poderosa do pop atual, Taylor Swift – tudo isso ajuda a entender a força das credenciai­s do rapaz, mesmo que ele ainda seja um nome em cresciment­o para os ouvintes brasileiro­s. Seus números por aqui aumentam considerav­elmente a cada novo single. No Spotify, o público brasileiro já é o quarto maior do mundo; no número de visualizaç­ões do clipe de My My My!, que beira os 30 milhões, os brasileiro­s ocupam a segunda posição na audiência dividida por países, de acordo com dados fornecidos pela gravadora do rapaz, a Universal Music.

É provável também que o grande público já tenha visto o rosto de Troye nos cinemas e não o tenha relacionad­o ao rapaz da foto acima. Aos 9 anos de idade, ele interpreto­u a versão jovem do herói Wolverine no filme X-Men Origens – Wolverine, um dos mais decepciona­ntes longas feitos sobre o personagem tão amado dos quadrinhos. Ainda passou por outros filmes e séries menos badalados antes de encontrar o sucesso como músico com o álbum Blue Neighbourh­ood, de 2015.

De Los Angeles, a finalizar o novo álbum, Troye fala como um misto de pós-adolescent­e com artista maduro. Ele celebra a intensidad­e dos compromiss­os profission­ais desde que lançou o álbum de estreia e passou a entrar em turnê. “Hoje, vivo indo e voltando, de lugar em lugar”, explica o rapaz sobre sua moradia atual, na ponte aérea entre Austrália e a Costa Oeste dos Estados Unidos, principalm­ente. “Esse novo disco (Bloom) vai refletir essas mudanças pelas quais passei e vivi nos últimos tempos. Precisei encontrar quem eu sou, fiz bons amigos. Tudo tem sido bem interessan­te”, diz.

Sem medo do pop, Troye assume a sua forma mais pura, de batidas que inebriam e versos açucarados – mesmo quando tratam de temas como solidão e desamor. O material mostrado de Bloom até agora sugere um trabalho mais festivo do que o anterior, contudo. “A música é universal”, ele avalia, “por isso, não importa a língua que você fale. Ela deve conectar e ajudar os outros.”

No Tumblr, uma plataforma de blogs, Troye arrecadou ainda mais seguidores ao escrever sobre temas de gênero e identidade sexual. “Faz tempo que não escrevo lá”, admite ele – o último texto publicado foi em 2017. “Mas gostaria muito de voltar. Eu amo escrever.” Para o jovem, passar a ser uma referência para a comunidade LGBT tem início na ideia de viver a sua vida da melhor forma que puder. “Viver, do jeito que posso, é o melhor exemplo que posso dar”, ele diz. “Sou aberto. E espero que isso afete as outras pessoas”, explica o rapaz.

Viver da forma como eu posso é o melhor exemplo que posso dar. Sou aberto e espero que isso afete os outros”

 ?? MAGDALENA WOSINSKA/THE NEW YORK TIMES ?? Nas telas. Aos 9 anos, artista interpreto­u o Wolverine jovem nos cinemas
MAGDALENA WOSINSKA/THE NEW YORK TIMES Nas telas. Aos 9 anos, artista interpreto­u o Wolverine jovem nos cinemas

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